A nova pandemia nos pegou de surpresa e tivemos que adaptar todas nossas condições de vida. As creches, escolas e universidades fecharam na segunda quinzena do mês de março e desde lá vimos que a educação começou a definhar a cada mês. Os governos e o Ministério da Educação (MEC) foram os protagonistas no aprofundamento do abismo social que já existia há muito tempo em nosso país e vendem a ideia de que a solução da educação se dará via Ensino a Distância (EaD).
O Ensino a Distância (EaD), na verdade, é o processo de mercantilização da educação, pois ignora que mais de 4,8 milhões de crianças e jovens não têm acesso à internet ou até mesmo um aparelho eletrônico para acessar suas aulas. Esta ideia do ensino a distância ou remoto exclui, na prática, estas crianças e jovens do acesso ao conhecimento. Um aspecto importantíssimo a ser destacado é o pedagógico, pois é impossível garantir a alfabetização on-line, sendo que a mesma precisa de um acompanhamento de professores – papel que os pais não foram treinados para desenvolver. Já no ensino superior é pior ainda, pois professores têm que se virar para garantir as aulas sem nenhum amparo das instituições, sem falar nas demissões de vários funcionários terceirizados e a manutenção das altíssimas mensalidades. Muitos acadêmicos dependem das estruturas e recursos dessas instituições para realização de suas tarefas.
Se posicionar contra e defender a suspensão do ensino a distância ou remoto é fundamental para garantir uma educação plena e justa. Na realidade, este método é elitista e divisor de classes sociais. Não há uma vacina para combater o novo vírus que vem matando milhões de pessoas, independentemente de idade. Caso venha a ocorrer, o retorno das aulas presenciais acarretará uma contaminação em massa em nossas crianças, jovens, profissionais da educação e da comunidade em geral.
O Brasil chegou ao pico de mais de 100 mil mortos pela Covid-19, considerado o segundo país do mundo com a maior taxa de mortalidade pela doença, atrás apenas dos EUA. Impossível termos um distanciamento social ou controlado com salas de aulas superlotadas, faltando vários funcionários para garantir uma limpeza adequada nas escolas, com falta de equipamentos e de estrutura escolar. De acordo com o último Censo Escolar de 2019, mais de 10.685 escolas públicas não têm acesso à água limpa, 8% não têm rede de esgoto e 4% não têm banheiro. Uma pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) aponta que crianças e jovens são assintomáticos, ou seja, podem contrair o vírus e nem sentir os sintomas, passando para os demais, sendo verdadeiros vetores da doença. A pesquisa aponta ainda que mais de 9,3 milhões de idosos moram ou convivem diretamente com alguma criança ou adolescente, o que aumenta o risco de contaminação de idosos e de profissionais da educação que estão no grupo de risco.
Os governos não estão preocupados com o processo pedagógico, mas para garantir os lucros de um punhado de bilionários que estão cada vez mais enriquecendo com essa pandemia, insistem que os pais voltem ao trabalho para atender às necessidades do capitalismo. Para nós, da União dos Estudantes Santa-Cruzenses (UESC), a vida de milhares de crianças, adolescentes, jovens, profissionais da educação e a comunidade importa!
Portanto, defendemos urgentemente o fechamento total das creches, escolas e universidades para termos preservada a vida de milhares de pessoas. Necessidade da suspensão dos calendários escolar e acadêmico, das mensalidades caríssimas por parte de algumas instituições de ensino privado, dos vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), e garantir o acesso e permanência estudantil durante a pandemia, assim impedindo o abandono escolar ou acadêmico. Por fim, estimular a criatividade e o pensamento dos estudantes.
Podemos perder o semestre ou ano letivo, mas não podemos perder vidas, pois essas não se recuperam!
Matheus Mello e Jardel Quadros – dirigentes da União dos Estudantes Santa-Cruzenses (UESC)