Há alguns dias, juiz de Taubaté, São Paulo, decidiu que o médico Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de prisão por estuprar pacientes em sua clínica de reprodução, poderia cumprir prisão domiciliar, por conta de tratamento médico.
Andrea Neves, irmã do senador Aecio Neves, presa por ter pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, foi livrada do presídio e passou a cumprir pena domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.
Adriana Ancelmo, esposa do ex-governador Sergio Cabral, dona de um notável estoque de joias, acusada de lavar dinheiro obtido de forma ilegal pelo marido, conseguiu em março o mesmo benefício (depois desfeito), sob alegação da condição de mãe de crianças menores de 12 anos.
Com Claudia Cruz, esposa de Eduardo Cunha, o caso foi ainda mais chamativo: embora respondesse por gastos não justificados com cartão de crédito no exterior, em montante superior a 1 milhão de dólares, foi absolvida pelo juiz Sergio Moro, pela cândida alegação de “falta de prova suficiente de que agiu com dolo”. Pode?
Com relação a esses presos do “andar de cima” (elites) não ouvi ninguém pedir pena de morte, nem dizer que “bandido bom é bandido morto”.
A justiça continua sendo seletiva. Para pobres, pretos, prostitutas e, ultimamente, petistas, vale o rigor da lei. Gente rica, famosa e com amigos influentes é que vem sendo contemplada com penas brandas ou absolvição. Essa seletividade da justiça precisa ser lembrada porque foi criada uma falsa versão desde a Operação Lavajato: a de que agora o rico é tratado com o mesmo rigor que o cidadão comum. Um historinha mal contada.
Os ricos que a Lavajato pôs na cadeia são empresários envolvidos em negócios escusos com o poder público, mas a finalidade principal foi golpear o governo Dilma Roussef e a esquerda. A prisão vem sendo um meio de constrangê-los a delatar (supostos ou reais) deslizes cometidos em parceria com lideranças ligadas ao PT e os governos liderados pelo PT. Assim que delatam, os empresários são soltos ou sua pena é grandemente reduzida. Deste modo, podem aproveitar o dinheiro das maracutaias.
Para os presos do andar de cima, o crime muitas vezes continua compensando. Os cerca de 700 mil presos do andar de baixo – pobres e com baixa escolaridade na sua maioria – continuam em celas superlotadas e diante de um futuro incerto.