Suilan Conrado
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No longínquo ano de 1942, então com 9 anos de idade, o porto-alegrense Sérgio Roberto Dillenburg veio com a família para Santa Cruz do Sul. Estudou no Colégio São Luís, onde se formou em técnico contábil, sem imaginar que muitos anos mais tarde, seria responsável por um largo estudo da instituição. Um livro baseado na história do Colégio, assinado por Dillenburg, deve ser lançado ainda este ano.
Os cabelos brancos e as profundas marcas de expressão no rosto não escondem os quase 80 anos de vida que o jornalista, escritor, pesquisador e professor universitário aposentado carrega. No currículo, formação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com direito a especialização na Espanha. Depois, experiência em várias rádios e veículos impressos do Estado, até iniciar a carreira docente na Feevale e Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), em 1974, onde permaneceu por 20 anos.
O autor do livro “Os anos dourados do Rádio em Porto Alegre” foi também um dos fundadores e o primeiro diretor do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, na capital gaúcha.
Arquivo pessoal Sérgio Dillenburg
Sérgio Dillenburg: porto-alegrense relembra os anos que viveu em Santa Cruz
Em terras germânicas
Em Santa Cruz, Dillenburg trabalhou por 13 anos no extinto Banco Agrícola Mercantil. Paralelo às atividades bancárias, ele sempre procurava se aproximar do rádio, sua verdadeira paixão. A primeira experiência na área foi na tradicional Rádio Santa Cruz em 1952. Mesmo assim, o destino sempre o empurrava para o jornal. Assim, trabalhou nos impressos Gazeta do Sul e Correio do Povo, passando ainda pela antiga revista O Globo.
Obras publicadas
Ao longo da carreira, Dillenburg já publicou quase dez livros. Destaque para o já citado “Os anos dourados do Rádio em Porto Alegre” da Editora Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas, Porto Alegre, 2011, 2ª edição; “Tempos de Incerteza”, 1995; “A Imprensa em Porto Alegre: de 1845 a 1870”, 1987; “Do reclame ao Marketing – na onda do progresso”, 2006.
Curiosidades
Depois de formado, Dillenburg resolveu fazer uma matéria, por conta, com o cônsul do Uruguai, na época em que havia acordos comerciais entre o Brasil e o país vizinho. Após redigir o texto, levou na redação do Correio do Povo. Falou com o secretário Antônio Carlos Ribeiro e apresentou a matéria dizendo que era estudante de jornalismo, e acreditava que o texto era interessante para ser publicado.
Praticamente toda a semana ele ia até o Correio para levar uma matéria. Vendo a atitude do jovem, Ribeiro o encaminhou para falar com o diretor do jornal Breno Caldas, que depois de um tempo, o contratou como jornalista. Lá, Dillenburg foi repórter por três anos.
Divulgação/RJ
Museu da Comunicação Hipólito José da Costa em Porto Alegre: Dillenburg foi um dos fundadores e primeiro diretor
Crônica
Embora nos dias de hoje Dillenburg não tenha mais raízes em Santa Cruz, admite que o tempo vivido por estas terras foi muito bom. Saudoso, o “Conde”, como era conhecido nos tempos de juventude na cidade, nos presenteia com um belo texto, que deixa explícito mais uma vez, o dom que este grande difusor da comunicação no Estado leva para lidar com as palavras.
“Rememorando”
Caminho sem pressa pelas ruas da cidade que um dia foi minha. Há mais de 50 anos. Mas a cada esquina, casas, praças, escolas ou mesmo pessoas, que conheci, levam-me a recuar num tempo quando, ainda moço, identificava-me com seu ritmo de vida, mais lento, provinciano, mas talvez mais encantado para o sonhador, que projetava tantos planos de vida. Onde estão os colegas de aula do Colégio São Luís, dos antigos cafés, como o Polo Sul, centro dos acontecimentos dos jovens da época, das sessões das 17 horas dos domingos do antigo Cinema Apollo, a praça da Matriz, quando as tardes eram preguiçosas e cheias de novidades?
Os bailes, no Corinthians, Aliança, Ginástica e União, com a orquestra Jatibá, ao som dos boleros, tangos, valsas e inspirados sambas-canções, elevavam o ânimo romântico que tínhamos, sem falar nas movimentadas noite de carnaval. O atleta do basquete… Meu Deus, quanta disposição! Mas a vida exigia mais. O primeiro emprego, a primeira namorada, sensibilizando paixão, exigindo responsabilidade e novos planos.
Mas os desígnios da vida às vezes nos traem, levando-nos como ventos para outras paragens. A cidade grande com suas luzes e oportunidades, muitas vezes são meras ilusões… E, atraído por novas realizações, ainda latentes, busca na complexidade de uma nova vida, o sucesso desejado.
Esforço, estudo, decepções, para finalmente alcançar o estágio desejado, foram o preço alto pago por suas iniciativas. Depois do esforço por seu desejado reconhecimento profissional, nas distantes terras e por fim, com ousadia, integrar círculos sociais e culturais tão almejados ou jamais imaginados, o lutador faz uma pausa para avaliar sua trajetória, tão sinuosa mas também gratificante.
Porém o pensamento agora volta-se para a cidade que o acolheu por tão largos anos, e a figura que permanece é da antiga namorada que um dia prometeu voltar, mas que o longo tempo fora não o permitiu retornar…
Agora, falecida, sua figura volta à memória, que nunca deixou, e relembra aqueles belos dias de amor e convivência.
(Conde)