Dom Sinésio Bohn*
Na medida em que a consciência da dignidade do ser humano cresce, impõe-se também a convicção de que ele é superior a todas as coisas. As coisas existem para servir ao bem das pessoas. E não o contrário. O sábado foi feito para a pessoa, diria Jesus.
Proclamar a inviolável dignidade da pessoa humana foi um dos grandes serviços prestados à humanidade pela Igreja. O Concílio Vaticano II enumera os principais direitos: alimento, roupa, habitação, a escolha do estado de vida, constituir família, direito à educação, ao trabalho, à boa fama, ao respeito, à conveniente informação, direito de seguir a própria consciência, direito à proteção da vida particular, à justa liberdade, inclusive à liberdade religiosa (Gs, n° 26).
Se a Igreja presta serviços à humanidade, também a humanidade ajudou a Igreja a progredir. O Concílio citado faz a surpreendente confissão: “A Igreja confessa que progrediu muito e pode progredir com a própria oposição dos seus adversários ou perseguidores” (Gs n° 44). Para progredir com a humanidade, é preciso discernir os sinais dos tempos e superar o orgulho de só querer ensinar!
O que dizer da crescente intromissão de juízes e juízas em assuntos internos da Igreja?
Para responder é preciso fazer uma pergunta honesta: O que significa o fato de pessoas católicas recorrerem sempre mais ao judiciário para terem seus direitos reconhecidos dentro da Igreja? Por exemplo, para terem seus mortos sepultados, mesmo sendo pobres ou em dívida com o cemitério? Para não serem escomungados por acharem que o serviço voluntário não precisa ter sempre os mesmos atores? No passado tivemos não poucos abusos e injustiças, dado o autoritarismo, a omissão, a inveja e a ignorância dos direitos dos fiéis batizados. Talvez hoje é preciso mais diálogo no interior da Igreja e com membros do poder judiciário, sensíveis ao clamor de católicos inconformados com a administração da Justiça dentro da Igreja. Talvez possamos progredir mais?!
*Bispo Emérito de Santa Cruz do Sul