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O trabalho que ninguém vê

LUANA CIECELSKI
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Quando você anda de ônibus ou os vê passando pela cidade, você percebe o trabalho do motorista que transporta os passageiros para os seus destinos e do cobrador que ajuda nessa tarefa. O que a maioria não se dá conta, ou simplesmente não para um momento para pensar, é que por trás desses veículos circulando pela cidade há o trabalho de muitas outras pessoas, como as da limpeza.
    
Então, talvez você não saiba, mas todos os dias uma equipe de seispessoas tem como principal função limpar 22 ônibus de transporte coletivo urbano e 11 ônibus de transporte coletivo intermunicipal, na garagem da empresa Stadtbus. O objetivo deles, mesmo que a maior parte das pessoas nem perceba, é deixar o veículo em boas condições, para que os passageiros se sintam mais confortáveis enquanto se deslocam.

Duas dessas pessoas são a Liraci dos Santos, de 50 anos e o Mauro Gassen, de 49 anos. Ela é funcionária da Stadtbus há 7 anos e ele há 5 anos. Parceiros de trabalho, integram a equipe de limpeza da manhã.

Mauro e Liraci integram a equipe de limpeza da Stadtbus

As atividades começam por volta das 8 horas. Tímidos, Mauro e Liraci contam que o trabalho é dividido em equipes, para que aconteça de forma mais ágil. Eles, particularmente, começam pelas janelas, depois limpam os bancos e por fim cuidam do chão do veículo. Nesse percurso, muitas vezes encontram objetos. Já foram vários. Guarda-chuvas e celulares são os mais frequentes. “A gente encaminha tudo pro achados e perdidos. Às vezes alguém pode vir buscar ainda, né?!”, explica Liraci.

Esse percurso de limpeza (janela, bancos e chão) é repetido cerca de sete ou oito vezes por manhã. E eles dizem que gostam do que fazem. “Quer dizer… às vezes não, né?! Às vezes, como nos dias mais frios, a gente não gosta muito não, mas faz parte. Na maior parte das vezes a gente se diverte enquanto trabalha”, brinca Mauro.

Eles contam ainda que existem as linhas boas de trabalhar e as que dão mais trabalho. Os ônibus que circulam mais pelo centro da cidade, são sempre os mais tranquilos. As linhas são mais circulares e as pessoas que embarcam logo descem, não ficam muito tempo, então nem dá muito tempo de sujar.

Mas as linhas que vão mais pra fora… “Os ônibus de Linha Santa Cruz são os piores”, afirma Mauro. Lá tem as ruas de chão batido ainda, eles explicam. Então entra mais poeira, ou no caso dos dias de chuva (ah, esses dias de chuva outra vez!) é lama para todos os lados. “Nesses dias a gente trabalha bem mais”, concorda Liraci.

Apelo à consciência

Apesar de serem tímidos e não gostarem muito de falar, mas percebendo a oportunidade de mandar uma mensagem para as pessoas, Mauro e Liraci fazem uma crítica com base em uma conclusão a que chegaram enquanto trabalhavam: “As pessoas por onde passam, deixam lixo”.
    
E Mauro disse mais. “Existem tantas lixeiras por ai, inclusive indicando o tipo de lixo que deve ser colocado em cada uma delas. Mas ainda assim elas preferem colocar tudo no chão do ônibus. A gente pega muita coisa todos os dias”, ele reprova. Sua preocupação, é que se fazem isso no ônibus, devem fazer isso em outros lugares também. E é assim que a poluição toma forma.
    
Então, com seu jeito simples e um olhar simpático ele faz um pedido que não pode fazer diretamente às pessoas, porque elas não o vêem, não vêem seu trabalho, não sabem de sua existência: “Que cuidem mais, né?!”. Só isso.