Acredito nesta divisão de tempo onde incluímos ano, mês, dia, hora, minuto, segundo como referência. É como se pudéssemos nos dar oportunidades para fazermos algo em um determinado espaço. Não existisse isso, creio que seríamos ainda mais medíocres do que realmente somos.
Quem, de sã consciência, não se achou o máximo em um determinado dia?
Quem não teve aqueles 15 segundos decisivos para beijar alguém?
Quem não cantou afinadíssimo no chuveiro?
É disso que se trata. A vida nos permite os erros, mas também nos permite, em algum tempo, que possamos ser melhores e aceitarmos como bem feito nossos minutos de virtude.
Quando era muito menino, sonhava em ser um jogador de futebol. Meus irmãos mais velhos tinham jeito pra coisa – um chegou a ser campeão estadual de futebol de salão com o Juventude de Uruguaiana. Eu queria ser igual. Esforcei-me, até. Acreditei que podia, mas nunca passei de um mais ou menos, mais pra menos do que pra mais.
Ao chegar em Santa Cruz do Sul, interno no Colégio Mauá, ainda mantive o sonho de futebolista, mas tive o estalo de que estudar era preciso. E como eram difíceis as aulas de matemática, química, biologia. Estudei mas não deu, quase perdi aquele segundo ano do científico, não fosse ter retornado para minha cidade natal e encarar um terceiro ano repetindo botânica. E nesta troca de escola, aconteceu uma coisa fantástica. Fui convidado para participar de um projeto de jornal da escola – O Berro. Atirei-me de corpo e alma. Desenhava, escrevia, produzia no mimeógrafo os exemplares e fazia chegar nas mãos dos colegas.
Foi nesse embalo que nem muito mais tarde, comecei a escrever no Riovale Jornal. E comecei por cima. Entrei de sócio no jornal e passei a conviver com a redação também como pauteiro.
Lembro de um Ave-Cruz nos Plátanos (não sei bem o ano) que o jornal fez uma cobertura diferente com alguém cobrindo o Galo (eu) e outra pessoa cobrindo o Avenida (Sérgio Böhm). Aquilo pra nós, na época, foi fantástico. Análise individualizada das equipes. E deu certo, acho, ou traumatizou o Sérgio pois, quando nos encontramos esporadicamente, lembramos deste episódio.
Mais tarde, teve a história do Dandão pelado no Alto Falante. A notícia, mas principalmente a foto dele atrás da estátua circulou na Espanha, inclusive. Tempos de glória e de satisfação pessoal incrível, que não teriam nenhum significado, se não pudéssemos separar o tempo e o deixássemos na linearidade que alguns propõem, mas não encaram.
Nestes dias de hoje, enclausurados por uma boa causa, o tempo é algo que queremos ver passar rápido para que se encontre uma vacina ou um remédio potente contra essa desgraça que é a Covid-19. Mas aqui, nos equivocamos um pouco. Nesse caso, não é o tempo sozinho que irá resolver a questão. É preciso consciência. Necessitamos, acima de qualquer ato de rebeldia, ficarmos ao lado dos protocolos. Se fizermos por cada um de nós, estaremos realizando nossos segundos de fama. A máscara, usada corretamente, tapando boca e nariz, a lavação insistente de mãos e quando não se pode, fazer uso do álcool em gel, continuam sendo o vetor para estancarmos as infecções. Ou é isso ou sequelas ou mortes.
A ciência aposta na vacina e é correto, mas, neste caso, precisamos esperar pela boa vontade de governantes que, aqui entre nós, parecem mais querer que a população acabe do que se empenhar na compra das doses, das seringas e das agulhas.
Bem ou mal, só depende de nós o sucesso de garantirmos a vida. Pelo menos a nossa.