A volta do mata-mata no Campeonato Brasileiro é um assunto discutido há muitos anos. Desde 2003, quando os pontos corridos foram instaurados, esse debate persiste. O Grêmio tem feito campanha para que o mata-mata retorne. Isto, pra mim, possui dois aspectos divergentes. Primeiro, em termos técnicos, o mais justo são os pontos corridos. Todo mundo enfrenta todo mundo, ida e volta, não tem como discutir os méritos do campeão. A dupla Gre-Nal, infelizmente, não demonstrou competência para conquistar o título nestes quase 12 anos de pontos corridos. Os principais concorrentes do futebol gaúcho – Minas, São Paulo e Rio –, conquistaram títulos brasileiros durante esse período, e o Rio Grande do Sul não ganhou nenhum.
Esse detalhe deixa bem claro que Grêmio e Inter estão devendo na formação de seus times.
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O segundo aspecto é a questão do Campeonato Brasileiro como atrativo e espetáculo. E não há dúvida de que o certame perdeu muito nesse sentido desde que adotou os pontos corridos. O mata-mata e a realização de uma final eram ingredientes que davam emoção ao campeonato. Final de Brasileirão era um evento imperdível para os amantes do futebol e, lamentavelmente, a magia em torno da decisão acabou. Por exemplo, o Cruzeiro, com todo o merecimento, conquistou o campeonato pelo segundo ano consecutivo. Mas o desfecho teve graça quando, paralelamente, o Cruzeiro estava perdendo uma final de Copa do Brasil para o grande rival, o Atlético?
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A intenção do Grêmio, ao meu ver, é também uma defesa de interesse próprio. E favorece ao Internacional, que não ganhou nada em termos de pontos corridos, mas, no que se refere ao formulismo, conquistou títulos importantes num período recente. Nos três títulos brasileiros do Inter, todos na década de 70, o campeonato tinha diferentes fases, incluídas a semifinal e a final. Nos dois títulos do Grêmio, em 1981 e 1996, não foi diferente. Aliás, na segunda conquista, o Tricolor ficou em sexto lugar na primeira fase, que era disputada em pontos corridos, todos contra todos, mas só jogos de ida. Os oito primeiros se classificavam para as quartas-de-final, e o Grêmio passou pelo Palmeiras nas quartas, pelo Goiás na semifinal e foi campeão contra a Portuguesa na final. O título do Tricolor em 1996 foi o último do futebol gaúcho no Brasileirão.
Até se entende a defesa de interesses, não há nada de errado nisso e faz bastante sentido neste caso. Mas é importante que Grêmio e Inter sejam fortes independente da fórmula do campeonato.
Nelson Treglia – interino