Não sabemos ainda onde, quando, quem vai disparar e quantas vítimas haverá. Saberemos em breve. Os tiroteios nos Estados Unidos acontecem periodicamente, todos os anos. Entre 2009 e 2016, ocorreram 156 grandes tiroteios (aqueles em que morrem pelo menos quatro pessoas), com 848 vítimas, uma média de 121 por ano. O recente tiroteio do dia 1º de outubro, em Las Vegas, foi o mais letal da história, com 58 mortos e 515 feridos. Um massacre. A realidade novamente competiu com a ficção. O atirador disparou friamente contra a multidão presente a um show musical.
O atirador não era muçulmano, negro, mexicano ou de algum outro segmento inconfiável segundo certa “gente de bem”. Era um homem branco, de 64 anos, aposentado. As investigações revelam que Stephen Paddock levava uma vida “normal” a um homem branco do estado de Nevada. Frequentava cassinos para jogar pôquer, curtia shows de música country e adorava voar e caçar. Não havia nada de estranho nele, afirmou um familiar. Stephen Paddock era cidadão de um país em que se compra armas com tremenda facilidade. É fácil adquiri-las nas mais de 50 mil lojas espalhadas pelo país, além de lojas de penhores, feiras de exibição, colecionadores e até mesmo pela Internet. Numa população de 323 milhões de pessoas estima-se haver cerca de 310 milhões de armas não militares entre a população, concentrada em 40% dos cidadãos. Ou seja, os cidadãos armados têm em média 2 a 3 armas. Paddock tinha 42.
Nos Estados Unidos, o perigo de morte mora em casa. Ataques terroristas são raros, tiroteios são rotineiros. A cultura das armas está enraizada na população. O direito ao porte de arma foi considerado pela Suprema Corte como direito individual. Defender esse direito é o objetivo central da Associação Nacional de Rifles da América, uma influente organização sem fins lucrativos. E, claro, das indústrias de armas. O próximo tiroteio pode ser em breve. Uma reflexão dirigida aos simpatizantes do deputado Jair Bolsonaro, que quer no Brasil “uma arma de fogo para cada cidadão honesto”.