Nas últimas semanas, análises acerca da crise advinda da pandemia do novo coronavírus, tecidas por profissionais das mais diversas áreas, acabam quase sempre convergindo ao lugar comum de que o mundo nunca mais será o mesmo depois da humanidade passar por esse terrível teste. Todos eles atestam um impacto inédito sobre a economia e a vida das pessoas.
Os pessimistas enxergam no futuro próximo uma longa recessão econômica em escala global, o que ampliará o desemprego, a miséria e as tensões geopolíticas. Os otimistas, por sua vez, apostam numa auspiciosa revisão geral de consciências, no rumo de responsabilidade social, sustentabilidade ambiental e apreço pelos elevados valores humanos. Estou junto destes.
Seja qual for o resultado dessa crise mundial, o fato é que ela não é nem a primeira nem a última. Todas acabam sendo vencidas, restando apenas a diferença no montante de recursos e tempo gastos na superação. Contudo, o mais importante está em quais lições são extraídas do doloroso processo. Quanto ao momento atual, o sofrimento vai nos ajudar a fazer reflexões.
Com bilhões de pessoas isoladas e a marca de centenas de milhares de mortos, o planeta já deu uma freada de arrumação que encolhe a atividade econômica drasticamente e colocou as pessoas diante das mazelas há tanto ignoradas. A saúde pública requer mais investimento, cidadãos de periferia carecem de dignidade e o ritmo da vida urbana deveria ser mais saudável.
Sim, voltaremos ao curso “normal” após essa tormenta. Necessitaremos de tempo para curar o trauma, mas chegaremos lá, cedo ou tarde. O mesmo Covid-19 que embreta o capitalismo global também é o que está acelerando transformações tecnológicas. A comunicação digital e serviços de entregas são prova disso, dentre tantas tendências a transformar setores inteiros.
Sempre ocorreram guerras, pandemias e catástrofes na história humana. Mas a marcha da civilização jamais cessou. Prever o futuro é arriscado, sobretudo nessa era de incertezas, mas há algo que já podemos ter como certo: além de aflições, batalhas contra inimigos visíveis ou não despertam também redes de solidariedade. Eis aí uma boa razão para crer no amanhã.
Lasier Martins – Senador