A “aposentadoria eleitoral” é um fenômeno constante. Lideranças nascem, crescem e se aposentam (ou são aposentadas). Quando isso acontece costuma vir a pergunta sobre o seu legado. O que fica quando uma liderança sai de cena? O que deixa para o futuro?
Uma forma de ver o legado da liderança política é olhar as obras que coordenou ou ajudou a realizar: edificações públicas, equipamentos de saúde ou esporte, alguma nova estrada ou ponte, asfaltamentos. Outra é observar se impulsionou ou contribuiu para a boa gestão: modernização de processos burocráticos, capacitação e boas condições de trabalho aos funcionários, zelo pela eficácia da administração, entre outros aspectos.
Esse olhar usual é válido e relevante. A ação política precisa ser mensurada pelos resultados, mais do que pelos discursos e intenções. Mas, observar os resultados é insuficiente e pode ser enganoso. Sabemos que muitas obras inauguradas numa administração foram preparadas na administração anterior ou viabilizadas por condições financeiras criadas anteriormente. E parte deles se beneficia do que foi feito no passado sem preparar o terreno para os que vêm depois.
Mas há um elemento mais relevante: o legado de ideias, valores, princípios que devem nortear a política. Lideranças não deveriam bloquear boas iniciativas, nem apoiar retrocessos. Deveriam semear o futuro, inspirar os mais jovens, cultivar os sucessores e deixar-lhes uma herança moral-espiritual.
Não é simples deixar uma herança moral-espiritual respeitável. Mais que de discursos depende de prática continuada e de instituir projetos voltados ao amanhã, sustentáveis, assentados na responsabilidade social. Esse legado deve incluir a noção de que o político eleito é um servidor do povo, que os assuntos públicos são de responsabilidade coletiva, o fortalecimento das comunidades, o empoderamento do cidadão comum, a opção preferencial pelos mais pobres e mais fracos, a justiça social.
Muitos políticos pouco têm a legar ao futuro. Seu horizonte é a eleição seguinte e depois a próxima. Seu personalismo fragiliza os partidos. Quando saem de cena, pouco resta. Não é por aí. Necessitamos de partidos sólidos, com linha programática clara, comprometidos com ideias duradouras mais do que com carreiras individuais. A vida de cada liderança é breve. O que fica são as instituições e elas são os veículos dos valores de que se alimenta a política.