Nos primeiros três meses de 2021 caíram os presidentes da Petrobras, da Eletrobras, do Banco do Brasil e do IBGE. Além disso, chegamos ao quarto ministro da Saúde, além da saída dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa. Na terça-feira, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica pediram demissão pela queda de Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa. É a primeira vez na história que três comandantes das Forças Armadas pedem renúncia conjunta. Crise, golpe ou impeachment? Qual o cenário mais próximo?
É possível afirmar que este, até o momento, seja o período de maior crise do governo Bolsonaro, que enxerga o avanço do Centrão inibir a imbecilidade da dita ‘ala ideológica’ do governo. Refém dos acordos que costurou com o Congresso e Senado, Bolsonaro é pressionado a dialogar ao invés de impor. Ao mesmo tempo, tenta conviver com a sombra de uma oposição embalada pela figura do ex-presidente Lula, livre e elegível
Ao ver que não restam mais cartas ou blefes, Jair arrisca tudo na narrativa de que as Forças Armadas estejam ao seu lado. Embora esse seja o governo com o maior número de militares desde a redemocratização, a sua relação com o Exército e as Forças Armadas teve alguns atritos e turbulências. Ao incluir diversos generais da reserva e ativa nas principais pastas do governo, viu sucumbir a tese da “competência militar”. O general Pazuello foi capaz de confundir dois Estados e entregou o cargo de forma vergonhosa, com a responsabilidade de um número de óbitos crescente em suas costas, após apostar em cloroquina e não nas vacinas.
Resumidamente, o governo afunda, enquanto Bolsonaro boia. Sustentado por uma parcela do empresariado que não se importa com os números da pandemia. Não compreendem que a culpa da economia estar ruim não é de decretos, de lockdown ou governadores, mas sim pelo presidente ter refutado a ciência ao não comprar vacinas.
Viver no Brasil em pleno 2021 é dormir com a incerteza de um golpe militar e acordar com a notícia de que mais pessoas perderam suas vidas pela Covid-19. Bolsonaro se agarra ao que lhe resta em seu flerte com o golpismo como única alternativa possível de seguir governando. As recentes (e inúmeras) crises mostram a estranha capacidade de um governo fadado ao fracasso evitar um tombo que levaria ao seu fim. Vivemos hoje algo que não é um golpe, tampouco pode ser chamado de democracia.