Secretário Municipal de Cachoeira, Loir de Oliveira, declarou que a Semana Farroupilha é “uma babaquice sem tamanho”. A frase irritou os tradicionalistas e custou-lhe o cargo. Loir esqueceu a máxima gauchesca “se trouxeres teu orgulho de ser brasileiro, te entregarei a minha honra de ser gaúcho”.
Mês passado, ao assistir uma solenidade de formatura, além da felicidade estampada no rosto dos pais e do sentimento de missão cumprida refletido no sorriso dos filhos, o que emocionou foi ver o público cantar o Hino Rio-Grandense com mais emoção que o Hino Nacional. E não houve quem não se arrepiasse com o coro “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra”.
Apesar de morar em Caxias, cidade que possui o maior número de CTGs, eu não tenho o hábito de participar dos festejos farroupilhas. Mas não abro mão de costumes campeiros como o arroz carreteiro, o churrasco e o chimarrão. Eu levanto cedo todos os dias para tomar um mate antes de sair para o trabalho. Herdei essa tradição do meu avô. Nas férias escolares, em sua granja, por volta das 3 horas da madrugada ele colocava a chaleira no fogo e a erva na cuia e me acordava para chimarrear à volta do fogão à lenha, ao som da Rádio Globo. Logo em seguida, o sol nem havia nascido e nós já estávamos na mangueira, bebendo leite tirado diretamente da “fonte”. Hoje que vivo no meio do concreto sinto saudades dos tempos de guri.
Por isso gosto de valorizar o que é nosso. Em minhas viagens como palestrante pelo Brasil afora, sempre que tenho oportunidade procuro ensinar uma fração dos nossos costumes. Uma vez até tentei fazer um carioca tomar um amargo.
– De que é feita essa cumbuca? – perguntou ele.
– A cuia é uma vasilha feita da cuieira (Porongo) – expliquei.
– É bacana esse jeito que você faz meio “piscina” – opinou.
Depois de contar que o chimarrão é a bebida típica do gaúcho e um símbolo de hospitalidade, perguntei se gostaria de experimentar. Ele fez que sim com a cabeça e disse:
– Vou limpar o “canudinho”.
Eu não acreditei no que vi. Ele pegou um guardanapo de papel e limpou a bomba. Eu soltei uma baita gargalhada e lhe dei um conselho:
– Tchê, nunca diga que o chimarrão é anti-higiênico, pois a presença de ouro e prata na bomba proporciona uma ação germicida e bactericida.
Ele sorveu um gole, fez cara feia e deu seu parecer:
– Se botar açúcar fica bom demais!
Depois dessa eu não tive como dizer que o gaúcho come negrinho em vez de brigadeiro, chama o Lago Guaíba de Rio, acha o Laçador mais bonito que o Cristo Redentor e é gaúcho, antes de ser brasileiro. Ele não entenderia. E será que o ex-secretário Loir entendeu?