O cerne de tudo é reconhecer a violência, porque a justificativa dos lutadores é baseada no medo de não serem reconhecidos como esportistas dignos e trabalhadores. Lógico que são, e mais ainda, são ídolos. As pessoas que gostam de lutas, mesmo que não pratiquem, identificam-se com o lutador. Existe uma projeção da vida do indivíduo na atuação do atleta, e isso basta para assegurar o papel de importância do lutador. Somos um país cada vez mais carente de ídolos, e o UFC proporcionou o surgimento dos heróis.
Existe, portanto, uma necessidade em se reconhecer na imagem do herói, uma vez que, naquele momento, durante aquele embate, desfrutamos todas as sensações e sentimentos reprimidos. Da raiva à euforia. Nos permitimos aos extravasamentos porque somos autorizados a isso através do evento, que sustenta também, as pompas do glamour e do espetáculo.
Bater na cara de seu oponente a ponto de deixá-lo sangrando, enforcá-lo com o intuito de finalizá-lo, termo próprio do MMA, ou seja, asfixiá-lo ou desferir uma cotovelada, são golpes contundentes com propósitos violentos. No antigo Pride, evento que foi comprado pelo UFC, não era permitido a cotovelada, todavia, podia pisar na cara do oponente, estando ele no chão. Isso não é violento?
O cumprimento ao final da luta, por boa parte dos lutadores, passa a impressão do respeito e da rendenção, entre o vencido e o vencedor. Conceitos como ética, equilíbrio emocional, amizade e companheirismo são ideais das artes marciais, referências e ensinamentos que deveriam ser de qualquer esporte. Não trabalhar esses ensinamentos dá margem a distorções, pois as identificações vinculam-se através do afeto, e como citei anteriormente, uma pessoa frustrada pode espelhar-se na luta, dando vazão a sua agressividade. Daí, muitos adolescentes vão brigar sentindo-se grandes lutadores de muay thay ou jiu jitsu.
*Professor de Psicologia da FASM (Faculdade Santa Marcelina)