Alyne Motta – [email protected]
De um laboratório de teatro, os (Ins) Pirados, produzido em 2008 pelos artistas Vanessa Schuh e Joe Nunes, surgiu o Coletivo de Atuadores Tribo de Rua, um grupo que produz espetáculos e intervenções de rua. A maioria dos integrantes é oriunda de oficinas e cursos de teatro.
“Certa vez juntamos dois grupos e deu certo”, explica Joe Nunes, um dos integrantes do Coletivo. Conforme ele, a ideia de fazer teatro na rua veio da capital gaúcha. “Via muito isso com a Terreira da Tribo e acabei trazendo a ideia para cá”, acrescenta o ator.
Dentre as atividades desempenhadas pelos artistas, estão oficinas vivências e a recente criação de um Núcleo Independente de Estudos de Teatro do Oprimido. “Buscamos o teatro como uma ferramenta de discussão com o público, e não a arte pela arte” pontua Joe Nunes.
Fabrício Correa
Peça Alegoria
A Tribo conta atualmente com treze atuadores esporádicos que participam das oficinas e das intervenções e quatro atuadores fixos, que trabalham na produção e encenação dos espetáculos. Atualmente, o maior problema encontrado é um local para o grupo ensaiar.
Todos os textos e roteiros da Tribo de Rua são escritos pelo próprio grupo e têm direção coletiva. Dentre seus espetáculos estão “Cale-se” (Ato Institucional nº5 de 1968) e “129 Mulheres” (Dia Internacional da Mulher) e o curta metragem “Poema em Preto e Branco” (adaptação do Poema “Resoluções”, de Bertold Brecht).
A escolha da rua
O projeto, mais que criativo, é desafiador. A escolha por atuar na rua não veio por falta de convites para estar no palco, e sim por vontade de todos. “A cultura do teatro, com o tempo, foi sendo perdida e encenar na rua vem retomando isso”, comenta Vanessa Schuh.
Georgia Amaral
Segundo eles, é preciso criar outras dinâmicas para chamar o público. “Muitos acabam fazendo uma relação de teatro popular e de rua com o teatro de péssima qualidade. A nossa opção foi estar nas ruas e ficar mais próximo do público e este, consequentemente, ganha mais liberdade”, explica Joe Nunes.
O ator ainda comenta que o grupo baseia-se bastante na ideia de fazer teatro apresentada por Bertold Brecht. “Quebramos a quarta parede, existente entre o atuador e o público. Nosso objetivo é que o público se sinta realmente dentro da história exibida”.
Alegoria
Em 2012, o Coletivo Tribo de Rua lançou a peça Alegoria – O natural pode se tornar incômodo, apresentado pela primeira vez durante a I Mostra Regional de Teatro e Circo, realizada pelo Centro dos Artistas Independentes (Cai) e pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), em Santa Cruz do Sul.
Para eles, a participação neste evento permitiu que muitas barreiras fossem quebradas, mas ainda muito precisa ser feito. “Somos profissionais no que fazemos e precisamos do apoio”, descreve Joe Nunes. “Aos poucos as pessoas estão percebendo isso, e dando valor às nossas apresentações”, acrescenta.
Georgia Amaral
Na peça, os realizadores pedem para imaginar uma caverna linda, com uma fogueira na frente, iluminando até o fundo. Neste mesmo local, as pessoas estão acorrentadas, de costas para o mundo lá fora e a única coisa que veem são as sombras refletidas em uma parede que fica na frente de seus olhos.
Essas pessoas estão condenadas a ver apenas as sombras da realidade refletidas pela fogueira que fica na entrada da caverna. O que existe fora da caverna? Será que depois de descobrir, você não vai querer continuar lá dentro? Antes das respostas vêm as dúvidas. Questione mais, duvide mais.
A peça traz para as ruas o Mito de Platão, mostrando que talvez a nossa sociedade não passe de uma imensa caverna iluminada pelas luzes das TVs e dos outdoors e que já não se matam mais na fogueira pessoas que têm ideias novas, hoje matam as ideias.
Este espetáculo tem duração de 50 minutos e é encenado por Jonas de Mora Leal, Joe Nunes, Najara Lourenço e Vanessa São. Quem quiser contratar o Coletivo Tribo de Rua, pode entrar em contato pelos fones (51) 9999 3469, 9965 8582 ou pelo e-mail [email protected].