Após quase um ano da pandemia de Covid-19, é impossível não olhar para trás, refletir e comparar como as nossas vidas estavam e no que elas se transformaram. A vida de todos foi afetada em algum grau pelo isolamento e o risco de contágio.
Teve quem precisou trabalhar de casa, aqueles que seguiram suas atividades por questão de necessidade. Houve quem descobrisse um novo hobby, aqueles que aprenderam algo através de um tutorial do YouTube ou que encontraram novas formas de usar a web. Além de muitos de nós termos ficado mais tempo em casa, acabamos permanecendo em um lockdown existencial. E quando a memória falha, restam as infinitas possibilidades do “e se”.
Não há um único ser que não tenha se pegado pensando no que são as nossas vidas e como elas poderiam ter mudado se algo tivesse acontecido. São aqueles momentos de contemplação em que revisitamos memórias e histórias passadas, acreditando que dessa vez algo será diferente. Se tivesse falado aquilo que tanto queria. Se tivesse confiado na intuição. Se aquele conselho que sua mãe deu estava certo mesmo. Se na hora do vestibular tivesse escolhido outra profissão.
São aquelas vidas que só existem dentro de nossas cabeças. Criamos enredos com tramas e reviravoltas hollywoodianas, acreditando que aquilo seria tão incrível assim, quando, no fim, se tratam de mais uma das várias possibilidades que não se concretizaram. Se no meio do caminho não houvesse uma pandemia. Se nosso presidente não fosse um burro. As inúmeras escolhas e decisões dentro de uma só vida. Tantas coisas poderiam ter acontecido e aconteceram, mas aquele resquício que existe dentro de você se pergunta “o que teria sido?”, segue vivo. Nada importa tanto quanto aquilo que se imaginou e não foi.
Em dias nublados, a memória tende a ser revisitada insistentemente por aqueles que não se acostumaram com a dura realidade. O que pode ser frustrante ou então uma válvula de escape em meio ao cotidiano. Em outros dias, isso pode ser mais um motivo para acordar e acreditar que essa situação pode acontecer. Cedo ou tarde, o destino fará o seu papel e tudo estará lá como se planejou e pensou durante dias, meses ou até mesmo anos.
Um ano se passou desde o início da pandemia e ela está longe de acabar. Vem aí uma nova onda que fará com que os cuidados sejam redobrados. Isso significa mais tempo pensando, matutando, questionando, refletindo, vivendo inúmeras vidas enquanto a realidade passa sob nossos olhos. Vendo os dias passar enquanto seguimos com as mãos grudadas em nossos celulares, observando quem faz aglomeração e pensando se tivesse ido para a Sibéria, para a Patagônia. Se tivesse começado a pedalar antes, se tivesse ido morar em uma cabana longe da civilização em ruínas, se a vida não fosse tão complicada e dura como é às vezes. Mas nada disso aconteceu. Apenas um ano perdido em meio aos momentos que perdemos imaginando o que teria sido. Me arrisco a dizer que a graça da vida está justamente em como nada que planejamos acontece como a gente espera.