Estamos num debate interessante que vem ganhando espaço na agenda brasileira: Os agrotóxicos. Da mesa do bar ao telejornal, no congresso nacional e até em programas de humor, os agrotóxicos estão na “boca do povo”. Segundo o Sindiveg, entidade dos fabricantes de agrotóxicos, nosso consumo de agrotóxicos é de 886.250 toneladas em 2017, em área plantada 65,9 milhões de hectares (Embrapa), são 13,45 kg/ha/ano (Garattoni, 07/08/19). Primeiro lugar no consumo de agrotóxicos no mundo e não dá para comemorar. Trazemos um resumo de duas pesquisas sobre agrotóxicos no Brasil e suas consequências para nossa saúde, sem falar em água, solo e alimentos, porque aí fica intragável.
A primeira do Ministério da Saúde feita pelo Instituto Butantã, publicado pelo Estadão (Jansen, 04/08/2019), afirmando que “Não existe quantidades seguras de agrotóxicos, pois se eles não matam, causam anomalias, (…)nenhum dos peixes submetidos aos testes se manteve saudável”, segundo a imunologista Mônica Lopes Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada. Foi usada a plataforma Zebrafish (Peixe zebra), metodologia reconhecida no mundo todo para testar toxinas na água. Foram testados 10 pesticidas, desde as doses mínimas indicadas até 1/30 dessas dosagens entre 24, 48, 72 e 96 horas na água, com ovas fertilizadas dos peixes. O glifosato, melathion e piriproxifem causaram a morte dos embriões em 24 horas de exposição, independentemente da concentração do produto e os demais mataram ou deformaram os peixes que não morreram. “Nunca poderemos dizer que será igual (aos peixes). Mas, como geneticamente somos 70% iguais a esses animais, é muito alta a probabilidade de que a exposição aos agrotóxicos nos cause problemas”, afirma.
Também foi noticiado pela TV Anhanguera de Goiás (05/07/2019), uma pesquisa de 10 anos da doutoranda Jhenefer Aguiar Ramos, do Lab. de Mutagênese, do Dep. de Biologia da UFG – Universidade Federal de Goiás, demonstrando que a exposição de 200 trabalhadores/as ao uso de agrotóxico, comparado com outros trabalhadores sem contato com agrotóxico, nos primeiros houve danos/lesões no seu DNA, tendo até cinco vezes mais quebras do material genético. “Se eles não tiverem um sistema de reparo eficiente, se tiver vários danos e não houver esse reparo, sim, eles podem ter uma maior propensão em desenvolver câncer”, assegura.
Ao evidenciar essas pesquisas sobre os agrotóxicos, não se trata de opinião, ser a favor ou contra. Mas de estudos de referência, de ciência que nos provoca a pensar sobre as consequências nefastas para a sociedade brasileira esse modelo de produção do agronegócio, onde o governo libera em sete meses o registro de 290 novos agrotóxicos (ÉpocaNegócios, 23/07/19), indo na contramão da nossa existência, que é o esfrço pela manutenção da vida na Terra. Esse debate nos interessa, porque estamos “dançando na beira do abismo” sob a “chuva de agrotóxicos”, negando a ciência, guiado pelo obscurantismo desses dias. E temos alternativas.
João Paulo Reis Costa – Coordenação da AAVRP