O mundo mudou demais numa geração. A tecnologia deu saltos gigantescos e atropelou a todos, mesmo que vibrássemos com as conquistas. As mudanças foram tão rápidas, que não conseguíamos assimilar a extensão de cada nova invenção, e a seguinte já estava no mercado, trazendo desafios sobre seu funcionamento.
Os antigos foram se acostumando com modelos que duravam longo tempo, uma vida toda. Imagine o rádio, inicialmente a bateria e, depois com a energia elétrica. Eu lembro que meu sogro fez uma pequena represa no arroio que passava na propriedade, e a água movimentava uma pequena roda d’água, que acionava um dínamo, cuja rotação produzia energia que alimentava a casa e assegurava energia para lâmpadas de 25 watts e o rádio. E os vizinhos ainda traziam as baterias para carregar…
Como não havia energia elétrica, não se tinha geladeira. As bebidas eram refrigeradas nas águas do arroio, na parte mais profunda e na sombra. Era típica “temperatura ambiente”.
Como não tinha como congelar carnes, principalmente a de porco, era fritada e colocada na banha em barril de madeira, e durava um bom tempo. Talvez por isso, se carneavam porcos mais seguido!
A vida era muito tranquila, havia tempo para visitar parentes, e os avós estavam no topo da lista, e as conversas eram o cotidiano, quando não os acontecimentos políticos locais, e as notícias que vinham da guerra, cujos detalhes eram trazidos pela emissora alemã, que os mais velhos escutavam, quando ainda era permitido.
Lembro que, quando cursei o Primário, era proibido falar alemão – única língua conhecíamos! – e nos tornamos mudinhos. Eu fui denunciado por desobedecer a norma, mas o professor não levou avante a investigação.
Mas quando íamos para casa, cerca de três km, a pé, a proibição se tornava inócua, porque era impossível fiscalizar, a não ser que houvesse um denunciante entre a gurizada! Nunca aconteceu!