Eu nasci nos tempos de outrora, quando não havia muitos recursos de que dispomos hoje: não havia televisão, só havia rádio AM, e mesmo assim muita gente não tinha. Eu me lembro que os parentes vinham pernoitar lá em casa para ouvir as notícias da Segunda Guerra Mundial, transmitidas pela Deutsche Welle, que meu pai escutava. E numa época, isto era proibido, porque o Brasil havia declarado guerra ao Eixo. As notícias eram poucas, e o jornal, que recebíamos uma vez por semana, trazia síntese das notícias filtradas pelas agências de notícias.
Estávamos, de certa forma, confinados ao povoado onde morávamos, distante 20 km da cidade, para onde íamos, uma vez por ano, para fazer compras.
Nossa vida era condicionada aos limites da aldeia, e nos deslocávamos a pé, a cavalo ou de carroça de bois, transportando a produção agrícola para casa e, de lá, para a cidade de caminhão.
Eu nasci em meio a muitas limitações, mas imensamente feliz pela liberdade de andar solto, pescando no arroio que cruzava nossa terra, por onde navegavam meus barquinhos, cuidadosamente construídos por mim, e que cruzavam os rios caudalosos. Não vou dizer que singravam os mares, porque não os conhecida.
Íamos para a roça em companhia dos pais, principalmente, a mãe, porque o pai era muito doente, e a mãe era o homem da casa. E carregou os filhos pequenos na cesta que o pai fizera de cipó.
A vida era simples, pobre até, mas plena de significado, em companhia dos pais amorosos em cuja vida nos espelhávamos e cujos valores nos eram transmitidos naturalmente, e crescíamos saudáveis plenos de amor e amparo.