Em meio à grande catástrofe ambiental que acomete o estado, Santa Cruz do Sul dá um importante passo em direção à preservação de seu maior patrimônio natural: o Cinturão Verde. O território ecológico, de 460 hectares, regulamentado em 26 de maio de 1994, na gestão do então prefeito Edmar Hermany, completa sua terceira década de demarcação. Para celebrar a importância da preservação do Cinturão e, principalmente, dar norte às ações de recuperação de áreas degradadas, foi realizada na manhã de domingo, 26, uma cerimônia simbólica no Parque da Gruta.
A promoção do evento esteve a cargo do Conselho Municipal de Gestão Socioambiental, criado em janeiro pela prefeita de Santa Cruz do Sul, Helena Hermany, e presidido pelo geólogo ambientalista José Alberto Wenzel que, em seu pronunciamento, destacou a preocupação com as áreas desmatadas ao longo dos anos: “Temos hoje 752 lotes dentro da área do Cinturão. Está todo fracionado e não podemos negar isso. Mas, ele é resistente e ainda há muita coisa que pode ser preservada. Por isso, temos que trabalhar na busca de soluções conjuntas com a comunidade, escutando as pessoas e respeitando a fauna e a flora”.
A manifestação de Wenzel foi ao encontro da proposição da prefeita Helena, que, durante o ato, lançou um corajoso desafio à Comissão. “Ainda está em tempo de fazermos a nossa parte, por isso quero propor uma mobilização para que possamos rever os loteamentos que estão autorizados mas ainda não começaram a ser construídos. Sei que é uma ação de grande impacto, mas temos que tomar uma atitude para que, no futuro, não sejamos responsabilizados por condomínios construídos em áreas impróprias que coloquem pessoas em situação de risco”, disse Helena, que teve a proposta aclamada pelo público presente. “Não podemos mais permitir que catástrofes aconteçam em nossa cidade”, pontuou.
Também convidado para um pronunciamento, o ex-prefeito Edmar Hermany – atual secretário municipal de Obras e Infraestrutura -, lembrou das críticas que recebeu, na década de 90, quando fez a frente para demarcar as áreas de abrangência do Cinturão e dar início ao Plano Diretor do município, que definiu diretrizes para a construção de loteamentos. “Começamos a fazer um trabalho a muitas mãos e fomos chamados de loucos, na época. Hoje, estamos vendo as encostas caindo, os desmoronamentos, e um plano diretor que, com o tempo, se desvirtuou. É momento de pensar: por que isso está acontecendo? É tempo de trazer o movimento de volta para o caminho”, refletiu.
A secretária de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Simone Schneider, que também integra a Comissão, fez coro aos pronunciamentos que convocam para mudanças comportamentais: “O mundo que conhecemos desde criança está mudando, mas podemos fazer escolhas conscientes para transformar esta realidade”. O presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Gerson Trevisan, grande apoiador da causa, também fez um desafio: “o meu sonho, até os meus últimos dias, é de que nós pudéssemos fazer um esforço para dobrar o tamanho do Cinturão Verde, e hoje é um momento que faz parte da nossa história e do presente, mas com um olhar muito firme para o futuro”.
Momento musical e homenagens
O momento de reflexão sobre o papel das ações humanas nas mudanças climáticas foi acompanhado de uma apresentação voluntária dos músicos Roberto e Ricardo Pohlmann, integrantes da banda Ramal 314, que em voz e violão colocaram o público a cantar versos de cunho ambientalista. Ao final do ato, mudas de árvores foram entregues a três pessoas homenageadas pelo engajamento na luta conservacionista: o professor de Biologia da Unisc, Eduardo Lobo; a proprietária preservacionista Maria Helena Filter; e a secretária municipal de Planejamento e Governança, Karianne Pacheco.
Carta Convocatória
Durante o ato, a prefeita Helena Hermany e o presidente do Conselho de Gestão Socioambiental José Alberto Wenzel lançaram oficialmente a carta convocatória que evoca a sociedade para preservação e recuperação do Cinturão Verde. A íntegra está a seguir:
Aflitos e solidários, diante da maior catástrofe climática de nossa história, cresce em importância o compromisso com a preservação e recuperação do Cinturão Verde, na construção de uma cidade socioambiental resiliente. Transcorridas três décadas da assinatura do Decreto nº 4.117 de 26 de maio de 1994, que determinou a demarcação da poligonal, é tempo de reafirmarmos nosso compromisso inabalável com o Cinturão e todos os seres que nele habitam. Ergue-se, pois, com ainda maior relevância, o Movimento Pelo Cinturão Verde – 30 Anos.
Movimento que reconhece o estado de fragilização em que se encontra o território, que transcende sua definição geográfica, ao tempo em que, face às adversidades, constata sua resiliência e vitalidade. Mobilizados, agradecemos a todos os que contribuíram para esta causa ao longo dos anos e convocamos todos os cidadãos a se irmanarem a esse empenho contínuo pela recuperação e preservação do Cinturão Verde. Nesse sentido, no âmbito das proposições em elaboração, sugerimos a formulação de políticas que valorizem e incentivem os proprietários comprometidos com a preservação, reconhecendo-os como pilares essenciais na proteção, de ganho coletivo, desse importante complexo biodiverso no cenário da transversalidade coexistencial. Assim, quando nossos filhos e netos nos questionarem sobre o tempo atual, poderemos responder que, zelando pela casa comum a todos nós, atendemos ao convite para um futuro promissor.