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Na bancada ou em cima do palco

LUÍSA ZIEMANN
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Político, servidor público, empreendedor e músico. O que essas profissões podem ter em comum? Para Carlos Eduardo Pereira, o Cadu, tudo. Aos 30 anos, o santa-cruzense concilia sua rotina entre a Prefeitura de Santa Cruz do Sul, a Haus Som e Bar, a Hausinha Pizzaria e o Grupo Shake. Um dia a dia movimentado e uma agenda cheia: essa é a fórmula que Cadu encontrou para se manter motivado em busca dos seus sonhos.


O seu primeiro emprego nada tinha a ver com a política ou com o empreendedorismo. Aos 14 anos, Cadu teve o contato inicial com um instrumento musical, o chocalho. Logo em seguida, o surdo se tornou seu companheiro nas noites de samba e pagode. “Meu primeiro emprego foi com a música. Demorei a entender que de fato ele poderia e deveria ser levado como um emprego”, conta. “Mas, com o tempo, a necessidade de organização foi ficando maior e então tomando mais tempo no meu dia a dia. Digamos que foi uma fusão de hobby com trabalho propriamente dito. Demorou, mas foi algo natural com o tempo.”


Um dos fundadores do grupo Muleques do Samba, hoje Cadu integra o Shake, juntamente com os companheiros Palito e Djonata Pedroso. O grupo é conhecido regionalmente como um dos melhores quando o assunto é pagode. Sempre muito ligado à vida noturna, não demorou para desencadear em si um espírito empreendedor, voltado à diversão e entretenimento. “Sempre sonhei em ter o meu negócio. E não poderia investir em algo grandioso por não ter todo recurso financeiro naquele momento”, lembra o empresário. “Justamente por sempre ter sonhado em ter algo que resolvi encarar o desafio da Haus Som & Bar.”


Cadu conta que, antes dele assumir o negócio, onde hoje ele é sócio-proprietário, o estabelecimento não funcionava como um pub e sim pizzaria. “Com a minha chegada que acabou se tornando um pub.” O empresário afirma que a jogada de investir em algo deste segmento foi estratégica. Já conhecido na cidade devido ao Grupo Shake, ele viu na Haus um ambiente propício para reunir os amigos que já acompanhavam os shows de pagode e, ainda, investir em música de qualidade, valorizando os artistas de Santa Cruz e região. “Quando você ‘starta’ um projeto envolvendo música e em uma boa localização, desperta o interesse das pessoas”, observa.


Com as casas noturnas fechadas devido às medidas de prevenção contra covid-19, a ideia de abrir o negócio no formato pub ganhou força. “Esse segmento de negócio cresceu mais que o dobro durante a pandemia. E eu já tô velho para chegar às 6h da manhã em casa”, brinca. Foi assim que, em 30 de julho do ano passado, nasceu a Haus Som & Bar. Hoje, o pub funciona de terça-feira a domingo, oferecendo aos seus clientes música ao vivo todas as noites, drinks, chopp, cerveja e um cardápio variado que inclui a tradicional pizza da casa e petiscos.


Aliás, a pizza da Haus se tornou tão apreciada pelos clientes que o negócio teve que se expandir. Em novembro, após muitos pedidos de amigos para que a pizza feita pub pudesse chegar até suas casas, surgiu a ideia de criar a Hausinha. “Filha” da Haus, a pizzaria funciona no formato delivery e oferece aos seus clientes a mesma qualidade dos produtos elaborados na casa.


VIDA POLÍTICA

Mas como, em meio a tudo isso, surgiu tempo e vontade de se dedicar à política? Cadu conta que decidiu concorrer a vereador para cumprir um pedido do seu pai, que faleceu em 2017. Mesmo tendo sido presidente de grêmio estudantil e de ter participado na infância de projetos de jovens na política, o segundo suplente da bancada do MDB, que chegou ainda a iniciar o curso superior em Direito, mas não concluiu, diz que demorou a entender que tais atividades já o configuravam como um político.


Após a morte do seu pai em um acidente de carro em Pernambuco, Cadu decidiu ir em busca de mais este sonho. “Naquele momento eu entendi que eu deveria realizar minhas coisas, minhas metas, mas também deveria realizar o sonho de alguém que sempre lutou por mim.” Em sua primeira eleição, o empresário alcançou 490 votos. “Não obtive o êxito de estar entre os 17 (vereadores titulares), mas foi algo surreal e me mudou demais como ser humano. Tu saber que 490 pessoas, no mínimo dez ônibus lotados, acordaram dispostos a votar em ti é incrível.”

VALOR A simplicidade

Conciliar os três empregos, o relacionamento, a vida em família e ainda ter tempo para se divertir com os amigos não é uma tarefa fácil, mas, para Cadu, é prazerosa. “Quando você trabalha bastante obviamente você acaba tendo privilégios. Nem tanto financeiros, mas de se realizar com pouco”, afirma. “No meu caso, quando tenho oportunidade de, por exemplo, pegar os amigos e comer um churrasco em um dia aleatório é sensacional.” O envolvimento com muitas pessoas, aliás, é o que mantém o músico motivado. “Entre tudo que estes diferentes mundos me proporcionam, o que mais me acrescentou foi o envolvimento com mais pessoas, mais cabeças pensantes diferentes. Você cresce muito com ser humano, muito.”


Atualmente, Cadu trabalha de segunda a sexta-feira em horário comercial na Prefeitura, como chefe de divisão na Secretaria de Cultura. Após o expediente, ao menos três vezes na semana ele vai à Haus para cumprir as demandas do estabelecimento. “Tenho me virado e por vezes não consigo conciliar”, lamenta. Aos finais de semana, onde poderia usar o tempo para descansar, a agenda é ainda mais lotada, com as apresentações do Shake. “Estamos fazendo mais de 20 shows por mês a no mínimo seis meses. É algo surreal”, comemora.


Tanta correria deixa o empresário motivado com o que o futuro lhe guarda. “Tudo na vida é ciclo e eu acredito que se desdobrar durante a vida é a grande sacada. A música, além de ter virado meu trabalho, também é meu hobby e é minha paixão. Na Prefeitura tem sido um trabalho glorioso e é satisfatório demais ajudar o próximo. E a Haus é o meu amor mais novo, que a cada dia me conquista mais. Dá muito trabalho, muita dor de cabeça, mas você ver seu espaço cheio de pessoas felizes dá um sentimento de gratidão.”


Cadu salienta que estar rodeado de amigos, familiares e trabalhar com pessoas dá sentido às suas profissões. “Eu quero trabalhar a vida inteira para as pessoas e com pessoas. Não há nada mais belo nesse universo que você despertar as maiores sensações na vida das pessoas, seja através da música, do empreendedorismo ou da política”, salienta. “Meu negócio é gente, pessoas. Ajudar as pessoas a realizar seus sonhos e automaticamente fazer parte disso tudo me dando combustível para dias ruins.”