Não me considero um músico ‘de mão cheia’, mas sou grato a Deus por poder cantar e tocar o meu violão (um dos meus maiores deleites). Confesso que tenho muito a aprender para conseguir executar com maestria o meu repertório predileto, mas devo admitir que já me tornei muito bom na arte de ouvir uma boa música – “boa” naquela definição de Schopenhauer: “a música (que) exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende”.
E por falar em boa música, quero ‘tirar o chapéu’ para as casas noturnas de Santa Cruz do Sul que contratam músicos santacruzenses, pois, além de incentivarem os artistas da nossa terrinha, estão optando por música de muitíssimo boa qualidade. Isso mesmo, qualidade de arrancar aplausos de muitos maestros dos grandes palcos desse país.
Fico embasbacado com os músicos daqui; são músicos que esbanjam brilhantismo, que são ovacionados não somente pelo bom gosto na escolha do seu repertório, mas também pelas belíssimas interpretações com suas vozes e instrumentos, pelas distintas harmonias que arrebatam os sentidos.
Conversei com inúmeras pessoas que já tiveram a oportunidade de prestigiar excelentes intérpretes da música nas grandes capitais do Brasil, todos foram unânimes em dizer que Santa Cruz do Sul tem vários músicos de qualidade tão rica quanto. Não tenho dúvida disso!
No entanto, se em nossa cidade temos, de um lado, bons apreciadores da boa música, temos, de outro, “apreciadores” com dizeres sombrios, cito algumas clássicas: “R$150,00 para o músico tocar três horas é um valor muito alto”, ou “toque algo mais atual”, ou ainda “você não pode tocar umas músicas mais animadas, pois estou quase dormindo aqui (?)”.
Caro leitor, para que serve a música? Para manter alguém acordado? Para agitar a festa? Para dançar? Para preencher o ambiente? Para que ela serve? Creio que para tudo isso. Mas, em primeiro lugar, acredito que ela serve para alimentar a alma, para inebriar as emoções de quem se sensibiliza, para elevar o sujeito além do mundo que acaba ali, no limite em que o corpo e a vista alcançam – me acorre agora uma frase de Shakespeare que vem bem a calhar nesse sentido: “se a música é o alimento do amor, não parem de tocar. Deem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar, mate de náusea o apetite”.
Sei que muita gente faz jus ao que temos na cidade. Contudo, suplico àqueles que não o fazem, que (re)aprendam a ouvir uma boa música, que celebrem a música popular brasileira e a erudita, e que deem o real valor a quem sabe bem interpretá-las. Santa Cruz do Sul já provou ser grandiosa em vários setores, é também grandiosa no setor da música, sem sombra de dúvidas – que possamos valorizar a altura.