Luciana Mandler
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Fazer parte do Movimento da Mulher Negra de Santa Cruz do Sul (Movine) é muito mais do que abrir discussões acerca de espaço na sociedade. É pensar no coletivo. Não é à toa que dentro do movimento surgiu a Rede Afronegócios, uma das diversas ações afirmativas existentes.
A rede surgiu após muitas conversas, em que uma das demandas latentes era a criação de um espaço para a divulgação do trabalho das mulheres do grupo, visto que na pandemia muitas ficaram desempregadas e buscaram empreender como forma de sustento financeiro, conta a secretária do Movine, Luana Caroline da Silva. “Obviamente algumas já trabalhavam como MEI ou CNPJ, mas 2020 obrigou muitas de nós a se reinventar”, diz. “A Rede Afronegócios surgiu dessa forma, as meninas expuseram em quais áreas estavam atuando e assim poderíamos não só indicar essas profissionais para as pessoas que conhecemos, mas sim divulgá-las no mundo on- line”, acrescenta.
Atualmente, são cerca de 20 mulheres que fazem parte da rede, mas sempre são bem-vindas novas parceiras. “Nosso objetivo é agregar esforços”, aponta. “Nosso lema tem sido: Uma sobe e puxa a outra”, destaca.
Para Daniési Trindade da Trindade Alves, de 45 anos, que mora no Loteamento Beckenkamp, no Bairro Carlota, fazer parte da Rede Afronegócios é uma troca. “Nós, mulheres negras precisamos nos unir, ajudar umas às outras a crescer, expandir. Sermos valorizadas. E é gratificante quando podemos fazer o bem para os outros e não pensar somente em nós mesmos”, destaca.
Formada em História desde 2008, pelo Centro Universitário IPA Metodista de Porto Alegre, Daniési também é trancista e há cerca de 50 dias faz parte da Rede Afronegócios, em que conheceu através da filha – que jogava futebol com Claudinha (fundadora do Movine e da rede). No espaço, a santa-cruzense divulga somente o trabalho como trancista, pois não está ativa como professora.
Na profissão, Daniési conta que aprendeu a trançar quando era adolescente, uma tia que ensinou. “Então comecei a trançar as primas, filhos… Foi neste ano, depois de perder minha mãe para Covid-19 e ter que escrever um artigo de conclusão para uma Pós-Graduação sobre a história e cultura afro-brasileira que me aproximei nessa profissão”, recorda.
Na ocasião, escreveu sobre o cabelo afro e o trabalho das trancistas, “que não é só trançar, mas resgatar a autoestima, principalmente das mulheres negras”, destaca.
“Enfim, me apaixonei pela história e serviu também de terapia para um momento tão difícil que estava enfrentando”, completa.
A tia que a ensinou a trançar também foi vítima de Covid e faleceu 20 dias depois de mãe de Daniési. “E quando resolvi que as tranças entrariam na minha vida, fiz um curso on-line chamado Trancista de Sucesso, onde recebo todo suporte para prestar um bom atendimento aos clientes. Aprendi novas técnicas e tenho rotina diária de treinos”, revela.
Agora, a trancista investe na atividade e ama o que faz. “O Movine e a Rede de Afronegócios estão me ajudando muito na concretização dos meus objetivos. Uma puxando a outra e assim vamos longe”, ressalta. Para ela, estar participando da Rede de Afronegócios tem sido incrível. “É uma oportunidade de termos visibilidade e com certeza tem contribuído muito para o meu reconhecimento”, finaliza.