Decidiremos nas urnas, neste domingo, o sentido das mudanças que queremos para o Brasil. Podemos sintetizar a questão em: mudar de direção ou continuar mudando?
Mudar de direção, votando na oposição, significa alterar o modelo político em curso. Esse modelo não é algo desconhecido; é o retorno a uma visão política que predominou na década de 1990: o neoliberalismo. Se for vencedor nas urnas, Aécio Neves certamente não aplicará a mesma receita de Fernando Henrique Cardoso. Não há condições hoje, por exemplo, de implementar privatizações de empresas estatais no volume com que foram feitas naqueles governos do PSDB. E o tratamento dado às políticas sociais certamente será mais robusto, por exigência da nação. Mas, o pano de fundo será o mesmo: pouca confiança nas virtudes do Estado, muita confiança nas virtudes do mercado. Essa é a essência do liberalismo e do neoliberalismo, do qual o PSDB não se afastou, nem setores empresariais importantes, como o setor financeiro.
Manter a direção atual e aprofundar as mudanças é a proposta da situação, liderada por Dilma Roussef. A sua reeleição não significará mais do mesmo. Um segundo governo de Dilma necessariamente terá novas inflexões, especialmente no que diz respeito à política industrial, que é reconhecidamente um ponto frágil na política econômica atual. Mas, o pano de fundo não mudará: forte confiança nas virtudes do Estado, no seu papel de indutor do desenvolvimento, de responsável pela proteção social aos cidadãos e de regulador do mercado. Essa é a essência do desenvolvimentismo social, nome que vem sendo dado ao modelo em curso no país, inspirado nos ideais do socialismo democrático. A novidade desse modelo é a sua capacidade de aliar crescimento econômico e inclusão social. É um modelo redistributivo, que pela primeira vez na história brasileira propicia que o rendimento dos mais pobres cresça um pouco mais que o das camadas abastadas.
Poderia ser feita uma espécie de conciliação, aproveitando o que é bom de cada parte? Não! Não dá boa sopa misturar um pouco de cada. Por quê? Pelo fato de que os modelos estão assentados em valores diferentes. O modelo da oposição (neoliberal) tem como valor fundamental a liberdade individual. Já o modelo da situação (inspirado no socialismo) tem como valor fundamental a igualdade social. O primeiro contempla melhor as aspirações das camadas mais ricas da população; o outro, as aspirações das camadas mais pobres.
Para os eleitores que só veem a política como ação individual, que dividem os políticos entre bons e maus, os modelos não passam de abstrações, teorias. Mas, parte do eleitorado percebe as diferenças, nota que há dois grandes campos políticos. Estes eleitores são decisivos porque carregam convicções, paixão, e influenciam muitos outros. O que o acirrado debate eleitoral de 2014 vem mostrando mais uma vez é que as ideologias permanecem vivas. É disso que se trata: de ideologias distintas, que são indispensáveis à democracia.