Ana Souza
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A quarta-feira, 25, foi um dia especial para as Monjas Beneditinas do Mosteiro da Santíssima Trindade. Foi nesta data que o local foi fundado, uma Missa Solene a partir das 19h30min marcou a data, com celebração presidida pelo bispo emérito Dom Sinésio Bohn e o bispo diocesano Dom Canísio Klaus.
O Mosteiro foi fundado no ano de 1997 e nele um grupo de sete irmãs beneditinas, da ordem de Santo Bento, vive a tradição da vida monástica pautada sob a orientação da Regra Beneditina que a partir do Evangelho organiza o Mosteiro em suas quatro atividades principais: oração, trabalho, estudo e convivência fraterna. O primeiro sino instalado foi denominado São Paulo e na Festa da Santíssima Trindade, que ocorre no primeiro domingo de junho, será inaugurado o segundo o qual será chamado de São Bento e São Mauro.
Rolf Steinhaus
Localizado em Linha Travessa, mosteiro abriga as Monjas Beneditinas da Ordem de São Bento
A Regra Beneditina foi escrita por São Bento para os seus monges, em Monte Cassino. Mais tarde essa se universalizou, passando a ser observada em todo o Ocidente Cristão. Os beneditinos estão presentes no Brasil desde 1582, porém o primeiro mosteiro de monjas beneditinas, na América Latina, só foi fundado em São Paulo, em 1911. No Mosteiro de Santa Cruz está uma estátua de São Bento, que tem 2,20 metros de altura, feita em cimento e ferro. São Bento escreveu a regra de vida no século 6. “E a sabedoria foi de tal equilíbrio que nunca foi reformada. Traz como base o lado espiritual e humano, sendo que cada um deve ser considerado de acordo com sua idade e temperamento”, destaca Madre Paula Ramos, uma das fundadoras. “É uma grande felicidade ver o Mosteiro chegar aos 15 anos. O lugar onde está instalado é excepcional e transmite uma grande paz espiritual.”
O surgimento do Mosteiro veio através das Monjas Beneditinas do Mosteiro Nossa Senhora da Glória de Uberaba, pertencente ao Triângulo Mineiro. Ao chegarem em Santa Cruz do Sul ficaram, inicialmente, hospedadas na Casa da Retiros Loyola. É na simplicidade e no despojamento do mosteiro que as monjas encontram o ambiente favorável a uma vida de oração intensa. No local realizam diversas atividades, entre elas a arte culinária, ateliê de restauração de imagens, ateliê de confecção de velas, oficinas de costura e bordado, ateliê de tricô e crochê, cartões e mensagens, horta, pomar, jardim e artesanatos, além da fabricação de licores, geleias e mel. “Os recursos para a manutenção do Mosteiro são provenientes da venda dos produtos, sendo que as entradas maiores são dos ateliês de restauração de imagens”, frisa a Madre.
LITURGIA DAS HORAS
As orações realizadas no Mosteiro santificam o dia e o trabalho humano. Baseada nas orações judaicas e na tradição dos apóstolos, tem no Ofício de Laudes, ao nascer-do-sol, e no de Vésperas, ao pôr-do-sol, seu eixo principal. Desdobra-se durante o dia e a noite, nos momentos denominados Horas ou Ofícios.
Segundo Madre Paula, não há horário definido para as orações. “São sete momentos. O primeiro ocorre às 5h30min, depois orações às 7h, 9h, 12h, 15h, 17h30min e às 20h. Os momentos mais marcantes são o nascer e o pôr do sol.”
O Mosteiro da Santíssima Trindade tem como base três pilares: oração, trabalho e estudo. Madre Paula lembra que a sensibilidade ecológica é uma das atenções do local. “Os monjes sempre tiveram muita ligação com a terra e a natureza, só podiam trabalhar na agricultura.”
A CONSTRUÇÃO
Em quatro anos de trabalho foi construído cerca de 2/3 do projeto total do Mosteiro. Em sua estrutura atual abriga a recepção, cozinha, salas de orações, sala para serviços da contabilidade e hospedaria e nos corredores a via sacra feita pela artista plástica Clarice Jaeger com a técnica de xilogravura (técnica em que se entalha na madeira, com ajuda de instrumento cortante). “A hospitalidade é um dos elementos característicos da nossa espiritualidade beneditina. Aqui acolhemos pessoas que desejam um maior encontro com Deus e consigo mesmas, por meio da oração, do silêncio, da solidão em uma área rural magnífica.”
Após o término da construção, as irmãs passarão a habitá-la deixando livre para hospedaria os quartos e outros espaços que ocupam. “Nosso contato com a comunidade de Santa Cruz cresceu muito. Nos finais de semana, e assim a cada dia, registramos várias visitas e inclusive de grupos ecumênicos. O Mosteiro também serviu de retiro para dois bispos anglicanos.”
ICONOGRAFIA
Através das técnicas da iconografia (forma de linguagem visual que utiliza imagens para representar determinado tema. Estuda a origem e a formação das imagens), também são arrecadados recursos para o Mosteiro. “As imagens retratam o criador de todas as coisas, Deus. Os materiais utilizados são a madeira, ouro, pigmentos da terra e suportes como a gema de ovo e vinho. É um trabalho de transcendência e que emite a luz de Cristo, o lado espiritual e a pessoa divinizada. As imagens também trazem escritas em grego”, explica Irmã Andrea, autora das imagens.