Suilan Conrado
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O menino que nasceu em Camaquã, passou a infância em Sobradinho. Lá, morava em um quarteirão que era o seu mundo.
Igreja, Hospital, Escola, Rádio. Tudo o que a família de Edemilson Cunha Severo e sua família precisassem, estava ao alcance dos olhos da sala de estar da casa onde viviam.
Sempre jogando bola com os amigos em um campinho de futebol da redondeza, naquele 24 de dezembro não foi diferente.
Enquanto se divertia brincando com as outras crianças, Edemilson avistou sua mãe chegar. Dona Eloíza se dirigiu até o campo e chamou o filho. Lhe pediu que fosse até a mercearia para comprar pão de sanduíche, pois faria uma torta fria para a ceia da Noite Feliz.
O garoto prontamente atendeu o chamado. E quando chegou em casa, se deparou com uma das maiores surpresas da sua vida até hoje. “Tigrão”, como era chamado o modelo da bicicleta Monark dos anos 70, estava lá.
“É a bicicleta mais linda que eu já vi. Era vermelha, nunca vou esquecer”, comove-se Edemilson.
Garoto de apenas 8 anos na época, sonhava com o dia em que ganharia “tigrão”. Certamente o melhor dos presentes de todos os Natais.
A “magrela”, foi sua companheira por anos. E apesar de ter desejado-a tanto, Edemilson não se importava em emprestá-la aos irmãos e amigos.
Rolf Steinhaus
Edemilson, sonhava em ganhar “tigrão”, uma bicicleta da marca Monark, famosa nos anos 70
Atualmente, o presidente da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de Santa Cruz, não consegue desfrutar tanto do Natal.
“A desigualdade social me entristece muito. Não consigo ver uma mesa farta e me esbaldar sem lembrar daqueles que não têm nada para saciar a fome”, comenta Edemilson.
Para ele, nos tempos de infância, a vida era só alegrias. Não existiam preocupações, problemas, mortes.
Os anos que se passaram, mudaram tudo e a vida de adulto fez com que a realidade do mundo fosse escancarada aos olhos do menino que acreditava piamente no Papai Noel.
“Um dia descobri que era a Geneci, que se fantasiava”, revela.
Geneci era a empregada da família, que nos Natais daqueles anos, caracterizava-se de Bom Velhinho. Edemilson, moleque esperto, descobriu.
“Ela não falava, pra gente não reconhecer a voz, mas eu percebi os gestos de carinho dela com minha irmã, e associei que aquele Papai Noel, era ela”, desvendou o menino.
E se as lembranças de Edemilson são saudosas, a deliciosa ceia de Dona Eloíza, não precisa ser.
Pois ainda hoje, a família se reúne em todos os Natais, e sua mãe, cozinheira de mão cheia, trata de preparar os mais saborosos pratos, como as tradicionais torta fria, torta de coco e o peru de Natal.
A noite mais emocionante do ano já vai chegar, e Edemilson, frisa:
“Não deixem para serem benevolentes apenas no Natal. Para ser solidários, não precisamos de datas, precisamos de vontade.”