Início Economia Mesmo sem acordo, 5% do tabaco já foi comercializado

Mesmo sem acordo, 5% do tabaco já foi comercializado

Everson Boeck
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Ainda que sem acordo entre entidades e indústrias quanto ao valor de reajuste para a Safra 2013/2014, o tabaco nos três estados da região Sul do Brasil – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – já começa a dar os primeiros passos. Diante dos números atuais, a estimativa de receita bruta, segundo informações da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), com sede em Santa Cruz do Sul, é de R$ 5,3 bilhões. Segundo os dados, 85% do tabaco produzido nas lavouras da região do Vale do Rio Pardo foi colhido pelos fumicultores. Já na região Sul e Alta do RS, no total, já foi colhido 55% do tabaco das lavouras.
De acordo com o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, a comercialização iniciou em dezembro do ano passado entre alguns produtores e algumas empresas. “A indústria que mais comprou fumo até agora foi a Souza Cruz, as demais iniciaram o processo de compra em janeiro”, informa. A região litoral do estado encerrou a colheita em novembro (devido a questões climáticas) e, portanto, a comercialização está mais adiantada. “Em nossa região, como é mais baixa, a colheita inicia em novembro, por isso está mais lenta, mas não é só por isso. O produtor está terminando a colheita e em um período pós-chuva, isto é, está preocupado em preparar a terra para plantar outras culturas, como soja, milho e feijão. Além disso, o impasse na negociação sobre o preço com as indústrias também está atrasando o processo”, sinaliza o presidente da entidade. Para ele, a comercialização do tabaco deve ser aquecida a partir do mês de março.

PRESSÃO

As entidades representativas dos produtores nos três estados do Sul do Brasil – federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag e Fetaesc) – estão orientando os fumicultores a aguardarem uma definição por parte das indústrias quanto ao preço do tabaco para depois vender. “Entendemos que enquanto as empresas não se definem na questão de uma melhora do preço, é uma forma de fazer pressão para que elas se comovam com o pedido dos produtores de um reajuste mais satisfatório”, informa.
Depois da última tentativa de negociação da Afubra com as fumageiras, retomada nos dias 23 e 24 de janeiro, novamente não houve acordo. Embora as entidades tenham reduzido a proposta inicial, que era de 11,7% e baixou para 10%, as indústrias continuaram com os percentuais muito aquém das expectativas, entre 5,5% e 6,39%. Diante dos resultados apresentados, as entidades representativas dos produtores estipularam a data de 31 de janeiro para que as empresas revisem seus cálculos e apresentem propostas mais próximas às expectativas dos fumicultores. Caso isso não aconteça, as lideranças dos produtores deverão marcar uma nova reunião para definir os rumos da comercialização da atual safra.

FRUSTRAÇÃO

O presidente da Afubra, Benício Albano Werner, afirma que as entidades saíram frustradas da reunião com as indústrias. “É a primeira vez que vejo as empresas tão irredutíveis. Mesmo com o impacto de reduzir a lucratividade do produtor, para a segunda rodada de negociação nós baixamos quase em 2% nossa base de reajuste (de 11,7% para 10), logo, esperávamos esta sensibilidade por parte delas para um aumento na mesma proporção sobre a proposta inicial, o que não ocorreu”, lamenta.
Segundo Werner, as indústrias estariam dando mais valor aos clientes do que aos produtores. “Particularmente estou magoado com as empresas. Elas argumentam que não podem subir suas propostas porque seus clientes do exterior querem participar da desvalorização do real. Ou seja, estão mais inclinados ao tirar do produtor e deixar para os clientes, os quais, na minha visão, não devem e não podem interferir nas decisões da economia do nosso país”, avalia.
Neste sentido, Benício explica que se o preço praticado na safra passada, em dólar, fosse mantido em nada prejudicaria as empresas e representaria maior lucratividade aos produtores. “O preço médio praticado na safra passada era de R$ 7,51, o que equivale a U$ 3,60. Sendo assim, o valor médio da safra em curso chegaria a R$ 8,53, isto é, uma elevação de R$ 13,6%. As empresas precisam aprender a valorizar os produtores e seus próprios trabalhadores da mesma forma que valorizam seus clientes, já que os resultados obtidos junto aos seus compradores dependem muito dessas duas categorias. Valorizá-las é sinônimo de produto de qualidade”, argumenta.

EXPECTATIVA DE COMERCIALIZAÇÃO

Para o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, a expectativa de venda é que o produtor tenha uma lucratividade bem acima daquela que as empresas estão considerando, isto é, os 6%. “Acredito que os fumicultores receberão bem mais pelo seu produto por dois motivos. Primeiro: pela própria comercialização que já está acontecendo o produtor está recebendo um percentual maior. Segundo: a demanda está a favor do produtor. Sabemos que, em nível mundial, os estoques de tabaco nas empresas está abaixo do que é consumido. Geralmente as fábricas possuem um estoque técnico para 18 meses, mas atualmente não têm nem para 12 meses. Com isso as próprias empresas podem ter sérios problemas num futuro próximo. De modo geral no contexto, é mais um fator que nos faz acreditar que podemos reverter o quadro em favor dos produtores”, sinaliza.

Arquivo/RJ

Os três estados da Região Sul do Brasil estão comercializando
o produto desde dezembro

Tabaco supera exportações em 2013
Com crescimento de 50% em dólares, a Bélgica se destaca como maior importador do produto brasileiro, levando o Brasil ao seu segundo recorde consecutivo nas exportações do produto

Eliana StülpSindiTabaco

O Brasil continua sendo importante no cenário mundial de tabaco. Dados da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (SECEX/MDIC) confirmou a liderança do País no ranking mundial de exportação de tabaco em folha. Em 2013, foram embarcadas 627 mil toneladas do produto, gerando divisas de US$ 3,27 bilhões.
 “Temos mantido esta importante posição no mercado mundial desde 1993, graças à qualidade e integridade do produto que é comercializado. Outro forte fator concorrencial junto aos clientes internacionais é a produção sustentável conduzida no País, levada a sério por nossas empresas associadas”, afirma o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke. Depois do Brasil, índia, Estados Unidos e Zimbábue aparecem na lista dos maiores exportadores do produto.
Em 2013, mais de 85% do tabaco brasileiro foi exportado para 102 países. A União Europeia continua sendo o principal destino do tabaco brasileiro (42%), seguida pelo Extremo Oriente (26%) e da América do Norte (13%). O Leste Europeu, África e o Oriente Médio foram destinos de 7% do tabaco exportado, seguidos da América Latina, com 5%.
Em comparação com 2012, a Bélgica superou a China em importações do tabaco brasileiro, tendo importante destaque: em 2013 foram embarcados US$ 597 milhões para o Porto de Antuérpia, um aumento considerável de 50% nos embarques. O elevado aumento, entretanto, não pode ser associado diretamente ao País belga. “A cidade de Antuérpia é uma importante porta de entrada de mercadorias para outros países europeus, como, por exemplo, Holanda, Alemanha, Suíça e França”, afirma Schünke.
A China, que em 2012 embarcou US$ 478 milhões, em 2013 desacelerou as importações e levou US$ 454 milhões, alcançando a segunda colocação no ranking de maiores importadores do tabaco brasileiro. Os Estados Unidos figura na terceira posição e, assim como a Bélgica, também aumentou o montante embarcado: dos US$ 369 milhões em 2012 para US$ 410 milhões em 2013.
 “Estas oscilações nos embarques podem ser consideradas normais e podem estar relacionadas com o fluxo de estoques. Este novo recorde denota um mercado equilibrado e reflete a importância econômica do setor, especialmente para a Região Sul do País”, avalia Schünke. Em 2013, o tabaco representou 10,2% do total das exportações catarinenses e 9,3% dos embarques gaúchos.

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE TABACO 2013
(Fonte: SECEX/MDIC, 2013)

Brasil
US$ 3,27 bilhões total exportado pelo País
627 mil toneladas Brasil
Região Sul
US$ 3,24 bilhões da região Sul
624 mil toneladas Região Sul

Participação do Tabaco no Total das Exportações

10,2% Santa Catarina
9,3% Rio Grande do Sul
6,2% Região Sul
1,35% Brasil

Mercados do Tabaco Brasileiro
42% União Europeia
26% Extremo Oriente
13% América do Norte
7% Leste Europeu
7% África/Oriente Médio
5% América Latina

Países Importadores do Tabaco Brasileiro
(acima de US$ 70 milhões)
1º Bélgica– US$ 597 milhões
2º China – US$ 454 milhões
3º EUA – US$ 410 milhões
4º Holanda – US$ 189 milhões
5º Rússia – US$ 165 milhões
6º Alemanha – US$ 160 milhões
7º Indonésia – US$ 106 milhões
8º Polônia – US$ 74 milhões

Arquivo/RJ

85% do tabaco produzido nas lavouras da região do Vale do Rio Pardo foi
colhido pelos fumicultores. Já na região Sul e Alta do RS, no total, já foi
colhido 55% do tabaco das lavouras