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Mês da mulher | Nas arquibancadas ou no gramado: o lugar é delas

Conheça mulheres que inspiram outras mulheres a aumentar cada vez mais o espaço feminino dentro do mundo do futebol

LUÍSA ZIEMANN – [email protected]

A máxima que diz que “lugar de mulher é onde ela quiser” é o lema dessas mulheres. Seja pilotando um fogão ou um avião, e seja nas arquibancadas ou dentro de campo. Conquistar espaço no esporte – e, sobretudo, no futebol – não foi uma tarefa fácil. Mas elas conseguiram e hoje inspiram milhares de outras mulheres que também sonham em viver nesse meio que até poucos anos atrás era predominantemente masculino. Tainá Gabe, Eliana Milioransa, Pâmela Luísa da Silva e Cláudia Silva são apenas algumas das forças femininas dentro do mundo do futebol em Santa Cruz do Sul.

No caso da nutricionista Tainá Gabe, o esporte a acompanha desde a infância. “Desde criança acompanhei os jogos do Internacional com meu pai, isso influenciou bastante na minha paixão colorada”, salienta. A torcedora acredita que há alguns anos o futebol já deixou de ser um meio ocupado quase que majoritariamente pelo sexo masculino. “As mulheres estão a cada dia ganhando mais espaço, tanto na arquibancada, como nos bastidores e até mesmo dentro do campo, em diversos cargos, como nutricionistas, massoterapeutas, médicas.”

Tainá: “me sinto acolhida”
Arquivos pessoais

Para ela, o preconceito que antes existia com as mulheres que frequentavam os campos e estádios ou se envolviam com o futebol está se dissipando. “Eu acho que hoje existe bem menos preconceito, ainda existe, mas de menor proporção”, afirma Tainá, que é organizadora do movimento Gurias Coloradas de Santa Cruz. “Me sinto tranquila em frequentar o estádio. Nunca me senti ofendida ou desrespeitada, pelo contrário, me sinto acolhida. Talvez porque minha rede de relacionamento esteja mais acostumada com mulheres atuantes no meio esportivo.”

A união entre as mulheres do grupo – que é formado somente por mulheres e organiza ações beneficentes, eventos e acompanha o Colorado nos jogos – facilita o envolvimento com o futebol. “Com a parceria e convivência do grupo a gente tem mais vontade e coragem de ir pro estádio, qualquer lugar que temos companhia se torna um lugar mais legal.” O mesmo acontece entre as torcedoras do Grêmio que fazem parte do consulado feminino do time em Santa Cruz.

Segundo a consulesa Eliana Milioransa, os consulados femininos se organizam para que as mulheres apaixonadas por futebol possam se sentir cada vez mais bem recebidas e familiarizadas neste meio. “Queremos que nós mulheres estejamos unidas, que possamos ir aos estádios acompanhar os jogos com tranquilidade”, destaca a comerciante. “Têm consulados que já lotam ônibus só de mulheres para ver os jogos. O objetivo é unir o sexo feminino através do futebol, mostrar nossa força e protagonismo.”

Eliana: “queremos mostrar nossa força”

Assim como Tainá, Eliana acompanha o seu time do coração, o Grêmio, desde criança. Mas não foi seu pai quem a influenciou a torcer pelo Tricolor, e sim sua mãe. “Ela sempre foi torcedora fanática do Grêmio, não perdíamos um jogo e também acompanhávamos os programas esportivos. Lembro que após os jogos nem comíamos na mesa para poder rever os gols.” Esse incentivo feminino reflete no aumento de mulheres frequentando os estádios e também cargos dentros de clubes de futebol ou ocupados anteriormente somente por homens, como na arbitragem. “É muito importante que cada vez mais as mulheres estejam conquistando seu espaço e mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser.”

Dentro das quatro linhas

Conviver diariamente com dezenas de homens sendo a única pessoa do sexo feminimo no ambiente de trabalho. Isso a jornalista Pâmela Luísa da Silva tira de letra. Assessora de imprensa e fotógrafa do Esporte Clube Avenida, a venâncio-airense conta que sempre gostou e acompanhou jogos de futebol, sobretudo do Internacional, seu time do coração.

“Mas nunca me imaginei trabalhando no meio, nem sabia que poderia existir essa possibilidade”, afirma. “Quando eu estava me formando na faculdade e já tinha um entendimento maior sobre assessoria de imprensa e fotografia de clubes de futebol foi que comecei a buscar mais informações e aprender mais sobre isso.”

Pâmela: “é uma honra ocupar
esse espaço”
Giancarlo Santorum

O sentimento de trabalhar em um meio que até poucos anos atrás era predominante masculino é de privilégio. “Para mim é uma honra ocupar esse espaço, ainda mais no interior, onde temos poucas mulheres atuando como assessoras e menos ainda, como fotógrafas”, destaca a jornalista. Mas é claro que o caminho até chegar onde está não foi fácil. “A gente acaba sofrendo preconceito né? Principalmente no começo, de pessoas que acham que não somos capazes de fazer o nosso trabalho ou que estamos lá por outra razão. Mas são pessoas que não tem o menor conhecimento, então eu nunca dei atenção a esses comentários. A melhor resposta é sempre o trabalho bem executado.”

O resultado do trabalho de Pâmela, aliás, é o que a mantém ocupando o cargo no Avenida há cinco anos. “O Avenida sempre foi um ambiente muito familiar. Em todos os anos que estou no clube sempre fui tratada por todos ali com muito respeito, acredito que isso acaba me blindando contra qualquer comentário que venha de fora”, destaca a jornalista, que diz que até já pensou em desistir da profissão.” Já pensei várias vezes, mas não por comentários ou por preconceito, e sim por questões da dificuldade que é buscar um espaço em um nível nacional, por exemplo.”

No caso da servidora municipal Cláudia Regina da Silva não foi diferente. “Desde pequena eu me lembro de acompanhar meu pai, que era árbitro de futebol, nos campinhos do Bom Jesus, onde muitas vezes a nossa diversão era chutar bola”, relembra. “O amor por futebol começou nesta mesma época, onde eu e meus irmãos tivemos no esporte os mesmos sonhos: todo mundo queria ser jogador de futebol.” Vinda de uma família humilde, a santa-cruzense conta que no esporte eles encontravam sua maior riqueza: manter a família unida. “Lembro que na 5ª série eu não tinha alguns livros necessários na escola. Meu pai fez algumas arbitragens no futebol do interior da cidade e foi destas arbitragens que ele conseguiu dinheiro para comprar o meu livro de geografia. Eu o encapei e dormi com o livro. Foi a partir de vivências como essa que nasceu o meu amor pelo esporte.”

Cláudia: “valorizem as oportunidades”

Cláudia, que passou a se envolver no futebol tanto como atleta como auxiliando a montar times e organizar campeonatos pela região, conta que a trajetória é árdua e o preconceito já a machucou. “Já ouvi frases do tipo: “teu lugar não é aqui!”, ou xingamentos quando você vai jogar como “lá vai as machorras” ou “querem ser homem”, “teu lugar é na cozinha”.” Mas nada disso a fez desistir. “Minha mensagem é para que outras mulheres que jogam futebol valorizem hoje as oportunidades que a elas são ofertadas, porque muitas jogadoras antes de nós passaram por opressão, preconceitos, lutaram e lutam para que hoje o esporte feminino receba a valorização que merece. Muitas ainda transpassam barreiras, para que haja boas estruturas e condições para o crescimento e o desenvolvimento da modalidade, não apenas nos grandes centros esportivos mas também no futebol feminino do interior.”