Quem já não ouviu frases do tipo “Pode deixar que eu te ligo”, “Juro que não estava sabendo”, “Eu liguei, mas ninguém atendeu” ou “Não fui eu que contei”? São as chamadas mentiras necessárias, que o ser humano usa normalmente no dia a dia. A questão é: é possível passar um dia sem contar nenhuma mentira inofensiva?
O jornalista alemão Jürgen Schmieder se propôs um desafio: ficar 40 dias sem contar mentiras para escrever uma reportagem sobre sua experiência. A ideia era ser honesto e sincero em todas as situações. Certo dia, numa loja de roupas, sua mulher saiu do provador e perguntou se estava gorda. Jürgen, mesmo sabendo que a única resposta seria mentir para não magoá-la, seguiu as regras do desafio à risca: “Sua bunda parece muito grande”. O resultado foi desastroso: teve que dormir sete dias no sofá.
Um artigo publicado pelo Instituto Nacional de Psicologia e Neurociência estima que as pessoas mentem, em média, 200 vezes por dia. De acordo com os neuropsicólogos, as mentiras mais comuns são: “Eu ia te retornar, mas…”, “Estarei em casa tal hora”, “Já vai? Está cedo!”, “Não precisava de presente”, “Se eu tivesse, te emprestava” e “Até que a morte nos separe”. Pois é, quem nunca pronunciou uma mentira “necessária”, por razões de cortesia ou amabilidade, que atire a primeira pedra. É como disse a psicóloga Beatriz Acampora: “Todo mundo mente, nem que seja um pouquinho, pois a mentira é necessária para a sobrevivência”.
Fui ver se isso é verdade e, no dia 31 de março, véspera do tradicional Dia da Mentira, me propus o seguinte desafio: ser sincero e verdadeiro ao longo do dia e dizer a verdade, nada mais que a verdade. Não deu certo! Logo pela manhã, precisei sair para resolver um problema e, ao entrar no elevador, encontrei um vizinho que me perguntou: “E aí, Sérgio, tudo bem?”. Respondi que sim. Dá um desconto, ok? Foi só uma mentirinha social.
Na volta, fui almoçar com a família num restaurante novo aqui na Serra. Péssima escolha para um domingo de Páscoa. Comida ruim e atendimento pior ainda. Torci para que, na hora de pagar a conta, o gerente não pedisse a minha opinião. Não deu outra: “O senhor foi bem atendido?”. Na hora lembrei que uma negativa redonda e sonora pode gerar um sentimento de frustração e causar estragos na autoestima de alguém. E menti caridosamente: “Bom!”.
No fim do dia, ficou a lição: ao invés de contar mentiras necessárias, talvez esteja na hora de aprender a dizer, com carinho, verdades sinceras.