Quem não está familiarizado com as questões da linguagem poderá estranhar o título desta crônica, mas estou há tempo desconfortável com o uso de fórmulas de flexão, estranhas à língua portuguesa. Eu sou professor de Língua Portuguesa e durante trinta anos lecionei com muita satisfação para meus alunos.
A língua é um organismo vivo, que se modifica e se ajusta ao longo dos tempos, à semelhança do idioma que lhe deu origem: o latim que, na versão popular, deu origem à língua portuguesa.
Um dos pontos que sempre despertou interesse nos alunos foi como se constituiu o vocabulário da língua portuguesa, arcaísmos e neologismos, o cuidado com a pureza do idioma, enfim, entender como este se modifica através do tempo, sem perder a integridade.
Faz algum tempo que alterações estranhas vem me chamando à atenção nas flexões de gênero. Por conta da ideologia de gênero, se adota versões de masculino e feminino com frequência, sem nenhuma necessidade a meu ver. Flexionar a cada instante para o feminino é uma forma de empobrecer a língua. Vejam: “todos” e “todas” só para contemplar a questão do gênero. O pior ainda acontece por conta de flexões que não existem como “membras” da comunidade, só para contrapor à palavra “membro”.
Eu espero que a minha contribuição possa ajudar a refletir sobre a questão, mas me poupem de reações radicais, porque levei longo tempo para reunir coragem a fim de publicar esta reflexão.
A palavra “agenérico” contempla o plural “todos” para não desdobrar em “todos” e “todas” a cada instante. Posso admitir que me alinho com uma posição tradicional, mas espero estar protegido da ira dos deuses e não ser levado a julgamento no tribunal da inquisição.