No afã das manifestações pela retirada de Dilma pelo motivo mais do que justificado das pedaladas fiscais, houve um encontro. E, você sabe: quando um malandro encontra um mané, tem tudo para dar casamento. Casamento duradouro esse, com direito a traições e muitas pernas sendo passadas em um dos dois do casal. No calor dos acontecimentos de 2015 e 2016, o bolsonarismo sorriu tímido, mas com fome, afinal, não era o único pretendente e nem mesmo o mais bonito.
Houve aquela paquera, mas foi só depois de algum tempo que muitos resolveram se entregar nos braços do fenômeno da extrema-direita. A troca de olhares, as promessas e a crença de que tudo seria diferente. O início do relacionamento sempre é um mar de rosas onde se releva tudo, inclusive os defeitos e trejeitos do outro. Eu digo tudo mesmo, pois muita coisa foi relevada, como ofensas a setores da sociedade, injúrias e falas preconceituosas. Sentado ao lado do monstro originado pela falta de punição ao fim da ditadura, o mané acreditou que as falas sobre mulheres, LGBTQIA+ e indígenas era só o humor ácido. “Ele é engraçado”, falou o mané sobre Bolsonaro. “É sincero, ao menos não mente e não é corrupto”, disse o outro mané, competindo para mostrar quem estava mais apaixonado. “Ele é um mito!”, exclamou o mais impaciente. Afinal, eles gostaram mesmo é da firmeza e masculinidade com a qual o bolsonarismo sempre tratou seus adversários. Sem meias palavras, sem ter a mínima preocupação se havia ofendido alguém. Sem o politicamente correto, apelando para a dita liberdade de expressão. Liberdade em poder ofender aos outros, é claro.
O que encantou o eleitor médio, que sorriu ao enxergar Bolsonaro como uma possibilidade de voto para mudança? A defesa das pautas morais, da família tradicional, do combate à corrupção e o liberalismo. É engraçado que neste conceito de família tradicional as mulheres são invisíveis. Até o caçula está sendo preparado para a política e um dos filhos já chegou a disputar eleição contra mãe. Apenas uma família saudável, é claro.
O combate à corrupção pode ser visto como algo importante, tendo em vista que os últimos acontecimentos dão conta de que membros do governo pediram propina no momento da aquisição de vacinas. Para quem se acostumou a ser malandro no baixo clero da Câmara de Deputados, não podemos nos dizer que fomos surpreendidos com a dita “criatividade” do atual governo. Resta a lamentar que tanta gente tenha perdido a vida agora que ficou claro que não havia nenhuma intenção de se comprar vacinas. Antes era superfaturamento nas notas de gasolina, agora, bom, é algo muito mais grave. O antigo ladrão de galinha tomou proporções para fazer estragos muito maiores.
E, por fim, o liberalismo brasileiro. Ah, essa coisa idealizada como a chave do desenvolvimento do País! E os resultados são surpreendentes: 14,7 milhões de desempregados, carne, arroz, feijão, gás, luz, tudo mais caro. Guedes prometeu e os manés acreditaram que não havia nenhuma ideologia em seu ministério. Aquele que seria responsável pela economia brasileira conseguiu ofender o principal parceiro comercial do País e até agora só entregou o custo Brasil aos brasileiros. É engraçado dizer que até o momento, o mané liberal ainda acredita no bolsonarismo. Sim, existe bobo no mundo de hoje ainda. Por que a solução dos fracassos produzidos pelo liberalismo é… mais liberalismo. E quando dá errado é porque não foi liberal o suficiente. Precisa privatizar mais, precisa entregar os setores do Estado, tirar dinheiro de servidor, cortar e congelar salário. Entrega tudo na mão dos amigos do mercado. Se der errado, bom, não foi liberal o suficiente.
Agora esses manés se encontram desolados, como aquele sujeito que perdeu quem ama e vai tratar as mágoas com bebida. Ele se pergunta o que deu errado e se, caso ele soubesse quem era o monstro pelo qual se apaixonou, se ele teria cometido o mesmo erro. Spoiler: sim, ele cometeria novamente. O atual engano que vai substituir o bolsonarismo atende pelo nome de terceira via e já faz as mesmas promessas.