Tiago Mairo Garcia
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Em coletiva de imprensa concedida no último sábado, 27, os delegados que comandam a investigação do caso que apura a morte do menino Rafael Mateus Winques, 11 anos, ocorrida no dia 15 de maio, em Planalto, na região norte do Estado, relataram que a mãe do menino, Alexandra Dougokeski, 33 anos, mudou a versão e confessou ser a autora do assassinato da criança, em mais um crime com requintes de crueldade envolvendo pais e filhos no Rio Grande do Sul.
No primeiro depoimento dado a Polícia Civil, a mãe do menino sustentava a tese de que não teve a intenção de matar o filho. A suspeita decidiu mudar a sua versão e em novo depoimento prestado para a Polícia Civil no último sábado, 27, ela confessou que matou o menino com o uso de uma corda de varal quando ele estava acordado no quarto motivado pela desobediência do menino.
Segundo a Polícia Civil, no novo depoimento, a mãe relatou que na noite do crime deu dois comprimidos de Diazepam ao filho com objetivo de fazer o menino dormir após tê-lo repreendido por passar diversas noites em claro por mexer no celular. Alexandra foi dormir e por volta das 2h acordou e viu que após ter ingerido o remédio, Rafael ainda estava acordado mexendo no celular.
O delegado Eibert Moreira Neto, diretor de investigações do Departamento de Homicídios, relatou que nesse momento a suspeita perdeu o controle e resolveu estrangular a criança porque o menino estava desobedecendo as suas ordens. “Ela disse que foi até a área de serviço, pegou a corda, preparou a laçada e voltou até o quarto para asfixiar a criança. O menino se debateu, caiu no chão e sofreu uma lesão na costela que foi confirmada pelo laudo da necropsia”, disse o delegado na coletiva.
A mulher contou aos policiais civis que saiu do quarto e deixou o menino se debatendo asfixiado. Ao retornar, ela viu que o menino estava morto. Alexandra pegou uma sacola plástica onde cobriu o rosto do menino e com ele coberto, o pegou no colo e o colocou em uma caixa que havia em uma casa vizinha onde ficou escondido até o caso vir à tona.
Na entrevista, os delegados destacaram que o perfil da suspeita é de uma mulher perfeccionista que gostava de dar ordens e dominar a situação com os filhos e pessoas do seu convívio, destacando que tudo que saia da normalidade, causava extremo incomodo para ela. Os policiais civis também descartaram a participação de outras pessoas no crime, salientando que Alexandra agiu sozinha para matar o filho.
MUDANÇA NA DEFESA
O advogado Jean Severo, que estava atuando na defesa de Alexandra, informou que deixou o caso. Ele afirmou que a suspeita estava sendo coagida pela polícia para mudar a versão e se negou a assinar o novo depoimento. O defensor chegou a gravar um vídeo em que Alexandra admite isso e enviou para a imprensa.
A versão do advogado e o vídeo motivaram os investigadores a chamarem um delegado da Corregedoria-Geral da Polícia Civil (Cogepol) para conversar com Alexandra. Um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Defensoria Pública também foram até o Palácio da Polícia ouvir a suspeita. Segundo a diretora do Departamento de Homicídios, delegada Vanessa Pitrez, Alexandra decidiu trocar a defesa e optou pela Defensoria Pública. A Polícia Civil informou que também possui um vídeo onde Alexandra fala que em nenhum momento foi coagida pela polícia, sendo cada passo filmado, certificado e assinado por todos os envolvidos.
Com a saída de Severo do caso, a defesa de Alexandra Dougokeski será realizada pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul através do defensor público Andrey Regis de Melo, dirigente do Núcleo de Defesa Criminal (Nudecrim) e pela defensora pública Liseane Hartmann, dirigente do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem). (Com informações de GaúchaZH).

Psicólogo acredita que mãe sofre de patologia grave
Em entrevista concedida ao Riovale Jornal na tarde de ontem, 29, o psicólogo clínico, especialista na psicoterapia psicanalítica na abordagem técnica, Norton de Souza Soares, frisou que não acredita que somente o perfil perfeccionista da mãe, identificado pela Polícia Civil, tenha sido suficiente para levar ela a cometer o assassinato de maneira tão cruel contra a criança. “Não acredito que um quadro de perfeccionismo, na ótica da psicologia chamado de um transtorno obsessivo compulsivo, esteja atrelado ao assassinato. Chegar ao extremo de uma mãe tirar a vida de um filho em função disto, é um indício de uma investigação maior que esteja atrelado a um quadro maior de gravidade. Não tenho conhecimento deste caso, mas é bem provável que este quadro patológico da mãe se estenda para um quadro maior de uma psicopatologia mais severa, onde se encontra um quadro de psicopatia, sociopatia, um quadro maior desta ordem”, disse o profissional.
Questionado sobre o fato do uso do celular estar causando vícios a ponto de gerar conflitos familiares, o psicólogo confirmou que o uso incorreto das tecnologias de informação tem gerado uma série de transtornos no convívio entre as pessoas. Ele destaca que as tecnologias da informação estão à disposição para tornar a vida das pessoas mais ágeis, mas salientou que desde antes do início da pandemia, as pessoas já estavam substituindo encontros presenciais pelo aparelho celular. “No conflito familiar, onde existem várias divergências sobre o uso destas ferramentas, eles acabam sendo elementos intermediários que não vão conseguir dar conta de uma resolução de conflito frente ao modelo presencial. Celulares e redes sociais vêm para implicar em algo preocupante que é o afastamento social das relações humanas. Hoje o melhor caminho seria a flexibilização do uso desta ferramenta, mas jamais se desprender do encontro presencial e da conversa pessoal em virtude de algo tecnológico”, frisou.
Sobre as lições que a sociedade pode tirar desta tragédia familiar ocorrida em Planalto, o psicólogo salientou que entende ser necessária uma autoavaliação de nós mesmos e das pessoas próximas a nós, destacando ser necessário buscar um atendimento com profissional especializado na área quando existem suspeitas de problemas com natureza psicológica. “Temos que parar com esse pensamento de que assuntos de ordem psicológica e psiquiátrica sejam tão rudimentares no julgamento do ponto de vista das pessoas. Invariavelmente escutamos nos dias de hoje que quem busca este tipo de serviço, está “louco”, que tem algum problema severo que deve ser escondido da sociedade e de pessoas próximas. Este processo de desmistificação destes serviços entre pessoas e comunidade é importante para que se torne acessível que a pessoa não fique com medo e possa buscar um auxílio profissional quando for necessário. Quando nós mesmos sentimos que têm algum problema e não estamos sabendo a origem, que se busque auxílio com psicólogos, psiquiatras, com pessoas envolvidas na área da saúde mental”, finalizou.














