Essa copa vem mostrando muitas facetas acerca de quem somos nós, os brasileiros. Uma delas é a existência de uma minoria razoável de torcedores que podemos chamar de “torcida vira-lata”, torcida que incorpora o que Nelson Rodrigues denominou de síndrome de vira-lata (complexo de inferioridade em relação aos outros povos).
A torcida vira-lata torceu contra a seleção brasileira por motivos político-eleitorais, achando que a derrota em campo ajudará a derrotar Dilma, a candidata do governo, nas eleições presidenciais.
Antes, os vira-latas haviam feito um barulho imenso sobre a incapacidade do Brasil sediar a Copa. Além de gritar contra erros reais (atrasos nas obras, suspeitas de superfaturamento) insistiram em notícias falsas (supostos desvios de recursos da saúde e educação para a construção de estádios).
A grande mídia, seus jornalões e telejornais, junto com as redes sociais, são os principais meios de expressão da torcida vira-lata, a qual foi conquistando adeptos ao longo dos últimos meses entre os “inocentes úteis”. Os inocentes úteis são os ingênuos que, por razões diversas, embarcam nas teses mais estapafúrdias, como a de que a Copa estava comprada, que haveria quebra-quebra se fôssemos derrotados e outras ideias negativas sobre o povo brasileiro.
A torcida vira-lata teve seu dia de glória nesta terça, 8 de julho, data da goleada de 7 x 1 sofrida pela nossa seleção para a seleção alemã. Os foguetes e fogos de artifícios comprovam a alegria desses torcedores.
Como estamos numa democracia, há que respeitar os torcedores que torceram ferrenhamente contra os atletas do seu país. Mas, há uma má notícia para essa torcida: não temos nenhum exemplo nas últimas décadas de que as derrotas no campo de futebol tenham ajudado os partidos de oposição a vencer eleições. Temos, na verdade, exemplos que mostram o contrário.
Em 1998, perdemos feio para a França na final da Copa realizada naquele país (3 x 0) e o presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno.
Em 2002 ganhamos a Copa do Mundo realizada na Coreia do Sul e as forças de oposição, com Lula, venceram as eleições.
Em 2006, o Brasil não conquistou o título da Copa na Alemanha, mas o presidente Lula foi reeleito.
Em 2010, novamente não ganhamos a copa, acontecida na África do Sul, e a candidata da situação, Dilma, foi eleita.
Nada a ver, portanto, o resultado de campo com o resultado eleitoral.
A ficha vai cair agora, junto com teorias fajutas de que o futebol aliena o povo, pão e circo, e as teorias conspiratórias, que atentam contra a inteligência de muita gente letrada.
O povo sabe distinguir sua vida real (e o peso que nela tem a política) da sua paixão pelo futebol. Se as eleições forem vencidas pela candidata da situação, é porque a maioria do povo continua acreditando nela e no seu governo. Se algum candidato oposicionista vencer, será porque a maioria quer mudanças na condução do país. Simples assim.