Lula – Biografia Volume 1 de Fernando Morais, Companhia das Letras, é leitura obrigatória para quem gosta de política e, obviamente, quem admira a trajetória do ex-presidente do Brasil. Luiz Inácio é pelo menos diferente. Sua coragem é contagiante. Aliás, é mais que contagiante, é necessária. A primeira manifestação dessa vontade de enfrentar as injustiças se deu no final dos anos 1970, ainda durante a ditadura militar. Líder metalúrgico, presidente do sindicato, o barbudo soube lutar contra as gigantes montadoras e bater de frente contra o regime. Naquela época, morava em um apartamento de 30m² em São Bernardo do Campo, onde recebia líderes de movimentos sociais e eclesiásticos, companheiros de greves e nomes importantes da política que circulavam pela clandestinidade e ainda abrigava a esposa Marisa Letícia e três filhos.
Quando foi preso pela primeira vez, em 1979, ao ficar sozinho no carro da Polícia Federal cercado de homens armados, sentiu medo. Notou que poderia passar o mesmo que seu irmão mais velho com as torturas. Mas se foi e passou pelos interrogatórios comuns do DOI-CODI. Naquela época, as pessoas eram presas sem nenhum mandado, sem qualquer motivo muitas vezes. As ordens deveriam ser cumpridas e eram. Se necessário matar, matavam.
O livro traz a narrativa da prisão de Lula em 2018 a mando de Sérgio Moro e referendada pelo TRF 4 de Porto Alegre. Antes dela acontecer, foram muitas as tentativas de pedidos de habeas corpus, todos negados pelo Supremo Tribunal Federal. Lula foi preso e sentiu que ficaria no cárcere por uma semana ou 10 dias, e acabou encarcerado por mais de 500 dias. No período em que esteve na minúscula cela de 25m², a qual deveria ser um local de abrigo para um ex-chefe de estado (sala de estado maior), o prisioneiro recebeu visitas de expoentes mundiais – políticos, artistas, eclesiásticos, familiares e, obviamente, advogados e familiares. Lula negou receber qualquer presente, fosse a cachacinha trazida por um padre em baixo da batina, fosse o queijo francês mandado entregar na cela. Lula não quis ter seu “rabo preso”. Nesse período, confessou estar apaixonado e que se casaria com a nova namorada quando saísse da cela. Para ela escreveu 500 cartas e dela recebeu a mesma quantidade de missivas.
Em frente à prisão, manifestantes ficaram em vigília durante todos os dias em que Lula esteve na cadeia para lhes desejar bom dia, boa tarde e boa noite 13 vezes em cada ocasião. Lula não podia vê-los, só ouvi-los. A vigília chegou a virar ponto turístico.
Moro, nesse instante, vivia o ápice de sua carreira de justiceiro. Prender Lula tinha um significado além da conta para o juiz chefe da operação que ficou conhecida como lava-jato. Seu nome estava em todos os jornais, em todos os noticiários de rádios e de televisões, revistas e redes sociais. Moro era o cara, embora tivesse sido Luiz Inácio quem foi chamado de “o cara” por Barack Obama.
Moro é pré-candidato à presidência da República em 2022, assim como Lula. Sem toga e sem a proteção do cargo, o ex-juiz e ex-ministro irá para o debate com de quem foi algoz. Caso ninguém se impeça de participar por atestados de última hora, vejo como fantásticos os encontros em redes durante a campanha que está por vir. Pela primeira vez estarão frente a frente os dois citados e, quem sabe, para engrossar o caldo, o atual presidente. Vou esperar um traje de gala.
De volta ao livro, é importante se situar na narrativa emprestada por Fernando Morais. Jornalista, ex-deputado federal e secretário no Estado de São Paulo, é autor de títulos brilhantes, como Olga (Benário) a judia companheira de Prestes entregue pela polícia do governo de Getúlio Vargas aos alemães. Morreu em um campo de concentração nazista. Dele também é a biografia de Assis Chateaubriand, o Chatô, o rei da comunicação antes dos Marinho da rede Globo, entre outros títulos.
Encomendei o meu livro pela Livraria Iluminura (R$ 74,90). Em cinco dias estava com ele em mão. Uma boa dica para presentear quem gosta de ler neste Natal que se aproxima. Recomendo.