Tiago Mairo Garcia
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Cinturão Verde. Um nome familiar para qualquer cidadão santa-cruzense, que logo remete à mata nativa localizada no entorno da área urbana de Santa Cruz do Sul. Pois este mesmo nome relacionado ao patrimônio ambiental do município também remete para um dos campeonatos de futebol amador mais tradicionais já realizados no interior do município. Na primeira reportagem conheça o início da antiga Liga Cinturão Verde de Futebol Menor, que anos depois passou a ser denominada de Departamento do Cinturão Verde de Futebol, competição realizada entre os anos de 1977 e 1998, que por 21 anos envolveu times do interior situados na região norte e em localidades próximas da área de mata nativa do Cinturão Verde.
Conforme relato de Paulo Trinks, ex-secretário da entidade, que também atuou como jogador do Linha Santa Cruz, a ideia de uma nova competição surgiu em uma reunião realizada no dia 11 de fevereiro de 1977 para a escolha da nova diretoria do Linha Santa Cruz e que contou com a participação do padre Dario Backes, que na época vinha de Vale do Sol onde havia fundado a Liga Vale do Plumbs de Futebol. “O padre Dario foi quem colocou a ideia de criar uma liga de futebol amador próxima da cidade”, lembra Trinks.
Atualmente residindo na Casa Amparo Fraterno, em Linha Santa Cruz, o padre Dario Backes, 81 anos, lembra que a fundação da entidade teve o objetivo de integrar as comunidades através do esporte. Ele conta que se inspirou na ideia de futebol que vivenciou no período que estudou na Alemanha, entre 1962 e 1968. “Eu acompanhava o futebol na Alemanha e vi uma expressiva participação das comunidades e das famílias na prática do futebol”, conta. Padre Dario também atuou como jogador no país europeu e recebeu um apelido carinhoso dos alemães. “Por ser brasileiro eles me apelidaram de Pelé Branco em referência ao Pelé e ao Brasil que havia sido bicampeão do mundo na época”, recorda. Ao retornar para Santa Cruz, o padre viu que faltava organização com regras para a prática do futebol e com apoio de líderes de várias comunidades formaram o campeonato, em 1977, com o nome de Cinturão Verde, sugerido por Roque Dick e que foi aprovado em votação. “Foi uma homenagem ao Cinturão Verde de mata nativa que cercava Santa Cruz do Sul”, contou.
A primeira diretoria teve Osvino Pedro Etges como primeiro presidente, Roque Dick (vice-Presidente), Padre Dario Backes (supervisor) e Paulo Trinks (secretário). Os times fundadores da Liga Cinturão Verde foram Linha Santa Cruz (Linha Santa Cruz), Pinheiral (Pinheiral), Boa Vista (Boa Vista), Irmãos Coragem (Linha Áustria), Sete de Setembro (Linha Sete), Cruzeiro (Linha João Alves), União (Quarta Linha Nova), Juventude (Linha Seival), Juventude (Alto Linha Santa Cruz) e Linha Nova (Linha Nova).
Para marcar a criação da nova entidade esportiva foi realizado um torneio-início no antigo campo de Osvaldo Marx, primeiro campo do Linha Santa Cruz. Empresário do ramo imobiliário, Roque Dick, 68 anos, foi um dos organizadores do torneio e lembra que na época o almoço do evento foi o maior já realizado até então no município. “Coube a mim organizar e foi o maior churrasco feito em um evento na época. Assamos 1.500 quilos de carne em espeto de madeira e churrasqueira feita de bananeira com mais de 50 metros. Como não havia estrutura adequada, as pessoas sentavam no campo para almoçar. Foram servidos mais de 2 mil almoços sem tumultos entre as 11h e 14h”, lembra o empresário.
Sobre as regras da competição, os fundadores destacaram que no início o Cinturão Verde valorizava somente os jogadores das comunidades. “A lei do Cinturão em primeiro lugar era os jovens da comunidade. A competição valorizava as localidades e as famílias”, lembra Backes. “Era proibido pagar jogador. Se descobrisse que isso acontecia, o time era eliminado. Era um campeonato amador onde o atleta tinha que ter vínculo com a comunidade para jogar e somente dois jogadores de fora poderiam ser inscritos”, conta Dick.
O campeonato cresceu e chegou a ter de 18 a 20 clubes participantes nos primeiros anos. Além dos times fundadores, também participaram nos primeiros anos as equipes do Vasco da Gama (Boa Vista), Sempre Unidos (Linha Travessa), Palmeiras (Pinheiral), Oriental (Linha João Alves), Centenário (Rincão do Sobrado), Avante (Quarta Linha Nova Baixa), Atlético (Linha Nova), Juventude (Cerro Alegre), entre outros times transitórios que participaram de um ou outro campeonato na época.
Ao avaliar a fundação do Cinturão Verde, o padre Dario Backes destaca que a criação da entidade foi uma revolução social para a época. “O futebol foi a forma de integrar as comunidades e o Cinturão Verde fez isso ao promover encontros com jogos e festas entre os moradores destas localidades. O futebol promoveu o lazer, auxiliou na evolução das comunidades e mudou o conceito de lazer no interior de Santa Cruz através do esporte”, finalizou o idealizador da entidade.
Juventude, de Linha Seival, o primeiro campeão
Já o primeiro Campeonato do Cinturão Verde foi disputado em 1977 por nove equipes divididas em duas chaves. A chave A foi composta por Juventude (Alto Linha Santa Cruz), Irmãos Coragem, Boa Vista e Sete de Setembro e a chave B com Juventude (Linha Seival), Linha Santa Cruz, União (Quarta Linha Nova), Cruzeiro (Linha João Alves) e Pinheiral em competições disputadas nas categorias titulares e reservas. Os times se enfrentaram na primeira fase dentro das chaves em turno e returno.
Os dois melhores de cada chave avançaram para a fase semifinal que foi disputada em dois jogos entre Juventude (Linha Seival) x Juventude (Alto Linha Santa Cruz), com vitória do time de Linha Seival por 3×0 na partida de volta e Boa Vista x Linha Santa Cruz, com vitória do Boa Vista por 3×1 na partida de volta. Nos reservas, as semifinais foram entre Boa Vista x Linha Santa Cruz, com vitória do Boa Vista por 1×0 na partida de volta e União x Irmãos Coragem, com vitória do União por 8×4 na partida de volta.
A final dos titulares foi disputada entre Juventude (Linha Seival) x Boa Vista. Após vencer o jogo de ida, o Juventude, de Linha Seival, sagrou-se campeão no dia 6 de novembro de 1977 ao empatar com o Boa Vista em 1 a 1, gols de Nilso para o Juventude e Renê para o Boa Vista. O time do Juventude, campeão em 77, foi formado com Yedo, Sergio, Erineu, Engelberto e Seleuco. Elpidio, Flávio e Eugênio. Antonio, Nilso e José. Entraram no jogo Darci e Geraldo. Vice-campeão, o Boa Vista, foi formado com Flávio, André, Elo, Ildo e Nicolau. Urbano, Sérgio e João. Renê, Euclides e José. Entrou Derli. A final em Linha Seival teve arbitragem de Luiz Deoclécio Scheide, auxiliado por Luiz Edemar Laude e Adilo Selli. Nos reservas, o Boa Vista sagrou-se campeão ao vencer o União por 5×3 nos pênaltis.