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Lembram?

Lembram de quando a febre aftosa estava sob controle do Brasil, bastando gastar anualmente 30 milhões de dólares para manutenção da fiscalização e prevenção?  Lembram que este dinheiro estava no orçamento, mas acabou não sendo aplicado por alguns anos para reduzir o déficit do governo? Lembram como a aftosa acabou surgindo de novo comprometendo exportações de carne de mais de um bilhão de dólares?
Lembram de quando o governo decidiu que a China era uma economia de mercado? Lembram de como em função disto a China teve acesso irrestrito aos mercados brasileiros com seus produtos manufaturados em que sua mão de obra é remunerada a algo como um salário mínimo brasileiro ao ano?  Lembram que existem muitos  empregos brasileiros que foram parar na China?
Lembram de todas as coisas que deram erradas neste país apesar de nominalmente haver estruturas para que isto não ocorresse?  Lembram da defesa civil da serra no Rio de Janeiro que não funcionou?
Lembram do dinheiro das enchentes de Santa Catarina em que o governo prometeu ajuda aos atingidos e nunca desembolsou nada?
Lembram das agências reguladoras que funcionavam a contento e hoje não funcionam mais?
Lembram dos controladores de voo que operam com pouco treinamento e muito mais horas do que é aceitável em países de  primeiro mundo?
Lembram que grande parte do equipamento de controle aéreo foi comprado como sendo de última geração quando Geisel ainda era presidente?
Lembrem-se. Tudo no Brasil começa numa boa. Bons projetos, bom equipamento, pessoal de primeira. E com o passar do tempo vai havendo um descaso aqui. Uma economia ali. Um apadrinhado, depois dois, depois três. De repente todos que mandam na bagunça estão aí devido a favor. E então acontecem as coisas ruins.
Posso estar enganado, espero estar enganado, mas a minha observação de como tudo está se passando no país me indica que a Estação Antártica Comandante Ferraz pode ter sido destruída por uma sequência de pequenas economias, pequenos descasos. O alarme não funcionou. O fogo não foi debelado. Heroicos suboficiais morreram. Os equipamentos geradores estavam todos concentrados no mesmo lugar, o fogo se alastrou a outras instalações.
Até prova em contrário eu diria que faltou acompanhamento, treinamento e atualização e  “backup” (*) de sistemas. Em certo momento passou a se acreditar que o que servia em 2000 serviria também em 2012.
Uma pena. Era um dos programas de ciência mais fascinantes que o Brasil tinha. E até o desastre funcionava.  

*Tradutor & consultor de comércio exterior