Morreu a 242ª vítima do incêndio que atingiu a Boate Kiss. Mariane Wallau Vielmo, 25 anos, teve queimaduras em boa parte do corpo e estava há 112 dias internada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Quatro feridos permanecem hospitalizados. Uma noite que seria de festa para os universitários virou pesadelo para os familiares.
Na semana passada, após palestrar no Sindilojas em Santa Maria, conheci Juliano Reindolff Dotto. Ele me contou que costumava frequentar a casa noturna, mas naquela noite não foi à festa: “Meus amigos insistiram para eu ir, mas estava sem grana”, confessou. No dia seguinte, ele me levou até o local da tragédia.
Fiquei por alguns minutos em frente à Kiss, como alguém em busca de respostas, com os olhos fixos na frase “A boca do monte não sorri mais. Queremos paz, queremos justiça”. Chorei ao ler as mensagens escritas nas faixas e cartazes fixados nas divisórias colocadas em frente à fachada do prédio e ouvi com atenção o Juliano contar as histórias de algumas das vítimas do horror de 27 de janeiro.
Janaina Portela (que conseguiu sair da boate em chamas, mas retornou três vezes para ajudar no salvamento de amigos) nem era para estar lá naquela noite. Sua mãe, lavadora de copos, não estava se sentindo bem e pediu à filha que a substituísse no trabalho. Danilo Jaques (que fazia parte do grupo Gurizada Fandangueira) fugiu do inferno de fumaça e fogo, mas retornou para o interior da casa para buscar sua gaita. Roger Barcellos Farias (que trabalhava como segurança) também conseguiu ganhar a Rua dos Andradas, mas morreu tentando puxar as pessoas para fora. Seus familiares fixaram um cartaz em meio às flores em frente à boate: “Roger, você foi um herói, salvou duas vidas”.
Os parentes das vítimas idealizaram o Movimento Santa Maria do Luto à Luta, que tem como propósito reivindicar a punição dos responsáveis. Os integrantes do grupo, que vestem camisetas com a frase “Meu partido é um coração partido”, temem que a CPI instaurada para investigar a tragédia acabe em pizza e estão sentindo na pele o quão difícil é fazer com que a justiça prevaleça neste país. Alguns participantes dizem ter ouvido de uma autoridade: “O que eu tenho a ver com os filhos dos outros?”. E de outra pessoa: “Lugar de mãe é chorando, e não fazendo protesto”.
Mesmo assim, eles prometem seguir a vida, mas só depois que a justiça for feita. O luto virou luta.