Há cerca de dez anos Santa Cruz vem se transformando num “polo regional de saúde”, que engloba hospitais comunitários, cursos superiores de saúde, clínicas particulares, além dos órgãos da rede municipal e estadual. Um polo que atrai milhares de estudantes, profissionaise pacientes, gerando renda e emprego.
É um projeto coletivo, resultado da cooperação entre o poder público e as organizações comunitárias. Uma construção conjunta: Unisc, Hospital Santa Cruz, Prefeitura, Câmara de Vereadores, parlamentares, Corede, Amvarp, Conselho Municipal de Saúde, associações empresariais e sindicais, entre outras entidades.
O confronto da Prefeitura com o Hospital Santa Cruz/Apesc coloca em risco esse projeto coletivo. A intervenção no Pronto Atendimento assinala uma quebra de confiança que torna difícil o clima de cooperação. Diz o ditado que confiança só se perde uma vez. Todos têm a perder.
É importante ver as coisas como são. Três aspectos são fundamentais: 1. A saúde pública deve ser mantida por quem cobra impostos para essa finalidade, ou seja, a Prefeitura. Se a Apesc tiver que tirar recursos do caixa para custear a saúde pública só pode fazê-lo com dinheiro da mensalidade dos estudantes da universidade, o que não faz sentido. 2. Os altos custos do PA têm a ver com o elevado número de usuários, muito além da expectativa inicial, grande parte dos quais poderia ser atendido na rede municipal. Se os usuários não vão aos postos e sim ao PA, a responsabilidade é da Prefeitura, não da Apesc. 3. Só existe uma forma de diminuir os custos do PA: atender os casos simples na rede municipal. A melhor forma de fazer isso é fortalecer as ESFs, iniciar as atividades da UPA e melhorar o atendimento nos órgãos do município.
Não é necessário que exista um PA, nem que seja gerido pela Apesc. É só definir outra forma, talvez um Pronto Socorro Municipal ou Regional. Mas, qualquer especialista na saúde mostra que um Pronto Socorro é muito, mas muito mais caro do que os R$ 38 milhões que a Apesc necessita para manter o PA durante o ano.
Saúde de qualidade tem seu custo. Todos nos lembramos como era o antigo PU (Plantão de Urgência) municipal. O PU era bem mais barato. Convém ter olhos bem abertos: economizar em saúde pode significar economizar com a vida do povo humilde, que não tem plano privado de saúde, como foi comum ao longo da história.
Há muitas questões em jogo na relação entre Apesc, Unisc e Prefeitura. Por exemplo, muitos estudantes universitários dos cursos de saúde fazem seus estágios e seus estudos na rede municipal. São centenas de estudantes vivenciando os problemas ou prestando serviços, de acordo seu estágio de qualificação. São mentes abertas e curiosas que ajudam a repensar e melhorar o que está sendo feito. Vamos mandar todos esses estudantes para os municípios vizinhos?
Cedo vai ficar claro que a intervenção no PA não resolve nada, porque não vai à raiz do problema. Mas, pode causar prejuízos notáveis. O risco de retrocesso é bem real.