O mercado de trabalho ressente-se, há algum tempo, da falta de qualificação da mão de obra disponível, resultado de um investimento que o Brasil não tem feito como nação. Como consequência, vemos hoje empresas e associações de classe preenchendo essa lacuna com o objetivo de preparar seus profissionais para conquistar maior produtividade e excelência.
Empresas que desejam investir na capacitação de seus colaboradores para que aprendam um idioma devem analisar com atenção as necessidades e os objetivos dessa capacitação para que seu investimento possa alcançar os resultados desejados.
De quê inglês precisam, por exemplo, os profissionais que prestam serviços específicos, como os que são necessários durante eventos internacionais? Um taxista precisa saber conjugar os verbos no passado? Uma camareira precisa saber os verbos que indicam probabilidade? Um garçom precisa saber os comparativos de inferioridade e superioridade? É óbvio que não. Infelizmente, esses são alguns dos conteúdos listados nos programas de determinados cursos oferecidos para esses profissionais.
Os cursos de inglês para fins específicos (ESP – English for Specific Purposes) se opõem ao que chamamos de General English (Inglês ‘geral’), justamente pelo fato de o aprendiz ter objetivos de aprendizagem específicos. Precisamos conhecer as situações pelas quais eles passam em suas rotinas de trabalho para entendermos suas necessidades de comunicação, e a isso chamamos análise de necessidades.
A partir dessa análise, podemos criar situações de aprendizagem que possibilitem aos alunos duas habilidades básicas: entender o que está sendo pedido ou questionado e responder adequadamente a essa solicitação. Essas situações devem ser praticadas oralmente e de formas variadas para que o aluno vivencie as possibilidades de comunicação com as quais provavelmente vai se deparar. Se os alunos quiserem conhecer as estruturas linguísticas e gramaticais das situações aprendidas, (o que, de meu ponto de vista, não é relevante em um primeiro momento), esse estudo deve ser feito somente depois de aprendidas as situações.
Quando essa análise não é feita, o professor pode incorrer em erros estratégicos em sala de aula, minando a motivação desses aprendizes e, certamente, fazendo-os questionar a razão de aprender determinados conteúdos.
No caso das empresas, por exemplo, todo investimento, financeiro e de tempo, pode ser em vão se não houver cuidado na escolha do que será feito e como isso será feito. A seleção dos conteúdos e a escolha da forma como se dará o processo de ensino e aprendizagem são de fundamental importância quando se pensa em educação continuada. O resultado desse cuidado será um adulto com desenvoltura para se comunicar em inglês dentro de suas situações-alvo profissionais e, ainda, com autoestima para aprender mais e sempre, porque confia que vai conseguir.
Essa capacitação pode ser feita por órgãos do governo, por institutos de idioma ou até, em forma de aulas extras, pelas escolas do ensino médio. Para os alunos de ensino médio, em especial, o aprendizado de inglês para trabalhar na Copa traria um sentido de para quê aprender um idioma, além de um contato muito rico com cidadãos de outras culturas.
Sou otimista, acho viável porque temos quatro anos pela frente. Algumas condições nos ajudariam no sucesso dessa empreitada: começar logo e focar as necessidades de comunicação dos profissionais envolvidos.
*Professora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina