Fabrício Goulart
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A história começou na diversão e no espírito esportivo, em 1997. Os irmãos Cleber e Ezequiel Pereira precisavam formar um time para concorrer na Copa Garoto de Futsal, em Santa Cruz do Sul, pela Escola Municipal Bruno Agnes. Começaram a treinar na Praça da Vila Schultz, mas no primeiro treino não havia jogadores suficientes para se lançarem na disputa. Um desafio estava posto e eles não desanimaram. Dois garotos que passavam pela rua foram chamados na hora. O time foi treinando e, em pouco tempo, surgiram mais 15, 20 e por aí vai.
Hoje, cerca de 2,9 mil atletas já passaram pelo New Boys Santa Cruz Futsal. Inclusive jogadores famosos, como o atacante Pedro Henrique, do Internacional, e o ex-goleiro do São Paulo Tiago Volpi, que atualmente está em terras mexicanas. Contudo, apesar das estrelas que fazem parte da história do projeto, o objetivo não está na formação de atletas. Está mais ligado à origem dos jovens que passam pelas quadras. E no futuro.
O idealizador Cleber Pereira – que atualmente atua como voluntário, tendo como presidente atual Cristiano Teixeira – é hoje vereador no município e explica. “Ele tem um cunho realmente social. Não visa formar jogador. Visa dar uma ocupação no contraturno. A ideia era que os meninos não estivessem nas esquinas, não estivessem na rua”, diz.
Conforme Pereira, o projeto tem uma entrada bastante forte em bairros com alta vulnerabilidade social. São locais onde muitas vezes o tráfico de drogas está presente e envolve vários membros de uma mesma família. Assim como o desemprego e a violência constantes e rotineiros. “Todo pai acredita que o filho vai ser jogador. Muitas vezes é um sonho do filho, mas acaba automaticamente estando na cabeça do pai. Mas, nós trabalhamos de uma maneira diferente dentro do projeto”, contrapõe.
A ideia é colocar os jovens no que o idealizador chama de “caminho do bem”. “É realmente fazer uma inclusão social, fazer com que os meninos tenham uma visibilidade e um conceito dentro do esporte”, pontua. Isso não inviabiliza que alguns de fato se tornem atletas e participem de competições pelo Estado: “Mas nem todo jovem que integra o projeto participa de uma disputa estadual. Aqueles que se destacam no sábado pela manhã, na Vila Schultz, colocamos nos projetos de competição.”
O New Boys já firmou uma parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) a partir dessa concepção. “Hoje temos muitos dos meninos que acabam fazendo o segundo grau, e que conseguem ingressar na universidade sem custo nenhum”, explica. Pereira analisa, ainda, o retorno que o jovem acaba oferecendo ao próprio projeto com isso: “Hoje tenho quatro professores na escolinha que foram meus alunos. Que hoje não pagam universidade, mas ganham ela por causa do projeto.”
São várias categorias dentro da escolinha, que contemplam crianças a partir de sete anos, adolescentes e até adultos. Além disso, há participantes com autismo e equipe formada apenas por surdos. Na base, o grupo conta com a coordenação de Paulo Bauer. Já a categoria dos surdos fica a cargo de Cesari Soares.
Com vários professores capacitados, a regra é querer participar e se integrar. Não há mensalidade e o projeto já recebeu, inclusive, uma Declaração de Utilidade Pública: “Eles podem estudar, fazer uma faculdade, arrumar um bom trabalho e seguir a vida fora da criminalidade. Isso é o que mais a gente entrega. Trabalhamos para dar oportunidades não só no futebol, mas a partir do momento que eles saírem dali também.”
Apoio de empresas
O New Boys Santa Cruz Futsal busca ajuda de empresas da região para desenvolver mais ações. Conforme o criador do projeto, elas podem contribuir através da destinação de recursos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), já que o projeto está inserido na Lei de Incentivo Pró-Esporte. “Esse dinheiro, de qualquer forma, irá para o governo. Então, se pudesse ficar em Santa Cruz do Sul, melhor”, avalia.
Para se consolidar essa colaboração, Cleber Pereira pede a abertura de um canal de comunicação. “Acontece muitas vezes desses meninos serem muito bons no esporte e acabarem sendo chamados para alguma agremiação. Acaba sendo um trampolim para algo muito maior. Hoje, percebemos que poderíamos fazer muito mais, mas infelizmente ainda não temos como”, pontua.