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Houve tempos em que as coisas eram mais difíceis

Aqui em casa, seguidamente ouço meus filhos reclamarem de tudo quanto é coisa. Os jovens de hoje não sabem que a tecnologia facilitou em muito a vida de todos e que antigamente, sem tecnologia, era tudo mais difícil. Me lembro, quando eu era miúdo, de assistir à minha mãe descongelando a geladeira da marca Consul usando um ventilador (a campanha da empresa era “Põe na Consul”). A camada de gelo que grudava no fundo do congelador derretia e inundava o chão da cozinha. Que bagunça!
Os coadores de café eram feitos de um cabo de madeira, um aro e um pano branco. Minha mãe tinha que lavar o coador de pano antes de passar o café. E quando precisava abrir uma lata de azeite ela fazia dois furinhos com a ponta da faca – ou com um prego. Mas trabalheira mesmo era lavar as fraldas de pano dos filhos, na mão, no muque, no tanque de concreto. E depois ter que passá-las, uma a uma, com o ferro à brasa – isso mesmo: à brasa – bem quente. Ser mãe não era mole!
E meu sogro, que tinha que ligar a televisão alguns minutos antes do noticiário porque ela levava um tempão para esquentar?! Sim, quando seu Araci se casou seu Telefunken era de válvula, fria, e precisava esquentar. Ele ligava e só ouvia um estalo. Só depois de algum tempo aparecia uma luzinha no meio da tela que ia crescendo, crescendo… até formar a imagem preto e branco. Depois vinha o som.
E meu pai, que exercia a profissão de tropeiro e precisava levar o gado todo mês para o matadouro em Rio Pardo. Saía da zona rural de Cachoeira e percorria mais de 100 quilômetros no lombo de um cavalo. Uma cavalgada que durava cinco dias. Que dureza!
Peraí! Não posso esquecer de quando nós íamos buscar as fotografias no Estúdio Niágara. Era uma festa! Por quê? Ora, porque tínhamos que esperar – por semanas – que elas fossem reveladas. Corríamos para abrir o envelope para ver quantas queimaram, e depois comprávamos mais um filme de 36 poses.
O que eu mais detestava? Rebobinar fita de VHS. Alugávamos filmes nas locadoras para assistir em casa e se entregássemos a fita fora do ponto o atendente nos cobrava uma multa. O que eu mais gostava? Quando minha avó gritava: “Quer laranja com tampinha ou sem tampinha?”. Ela descascava a fruta e cada neto, lagarteando no sol depois do almoço, esperava ansioso pela sua. Não sobrava nem o bagaço.
Como se vê, houve tempos em que as coisas eram mais difíceis. Pode acreditar!