LUANA CIECELSKI
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Representantes do Hospital Santa Cruz, Hospital Ana Nery, Hospital Monte Alverne e Comunidade Terapêutica Recomeçar de Santa Cruz do Sul se reuniram na tarde da última segunda-feira, 22 de junho, na Câmara de Vereadores, para tratar de um problema que vem preocupando a todos: a situação econômica das instituições. Proposta pela vereadora Rejane Henn (PT), a reunião especial teve como objetivo esclarecer à comunidade sobre a situação atual e junto com vereadores, secretários municipais e coordenadores regionais tentar achar uma solução para os problemas que estão sendo enfrentados.
A grande dificuldade de todas as instituições é a falta de repasses dos governos estadual e federal. Quem ilustrou bem a situação, foi o diretor do Hospital Santa Cruz (HSC). “O número de leitos aumenta, o quadro de funcionários aumenta, os serviços continuam sendo oferecidos, mas o governo não nos repassa os valores”, observou ele. Boa parte dessa dificuldade já se dá por causa do não repasse do IHOSP (Incentivo de Co-financiamento da Assistência Hospitalar) que foi criado no governo anterior e que não será repassado por algum tempo, de acordo com anuncio que a Secretaria Estadual de Saúde fez na semana passada.
A Secretária de Saúde de Vale do Sol, Eliana Giehl exemplificou que para o seu município o I-HOSP era de R$ 11 mil reais. “Parece pouco, mas era um bom incentivo que agora não temos mais”, declarou. Para o Hospital Santa Cruz, o valor era de R$ 316 mil e para o Ana Nery, R$ 63 mil.
Outra grande reclamação é com relação à própria tabela do SUS. “Ela é intangível”, definiu o diretor do Hospital Ana Nery, Lídio Rauber. A reclamação é de que os hospitais estão pagando um valor pelos serviços hospitalares e honorários médicos e o valor repassado é muito abaixo. “Na média complexidade são R$ 147,00 para os serviços profissionais por paciente. Eu gostaria de saber quem é que vai fazer uma faculdade de seis anos, além de vários anos de residência, para prestar serviços dividindo R$ 147,00 com outros dois ou três profissionais que também atenderam aquele paciente”, exemplifica Lídio.
O grande medo dos diretores é que essa falta de recursos acabe fazendo com que os hospitais quebrem. Alguns temem ter recursos penas para alguns meses, como é o caso do Hospital Monte Alverne. Situação parecida vive o Ana Nery. “Demitimos funcionários e meus colegas aqui sabem como isso dói em um diretor de hospital. Também renegociamos contratos e fizemos acordos com fornecedores”, declarou Lídio. “Tudo com o objetivo de manter o COI (Centro de Oncologia Integrado) funcionando”. Thomé complementou: “Os hospitais estão na UTI”.
Citado pelos vereadores presentes como um dos principais solucionadores do problema, Henrique Hermany (PP) esclareceu que atualmente há R$ 3,3 milhões atrasados por parte do governo do estado e que recentemente fez uma tentativa de diálogo. No entanto, a resposta não foi positiva, solicitando que a discussão fosse retomada no 2º semestre de 2015. Ele também aproveitou a oportunidade para lembrar que o município já investe em saúde muito mais do que obriga a lei, chegando a casa dos 24% dos recursos quando o mínimo é 15%. Em sua opinião, o que falta é mais diálogo entre estado e municípios na hora de tomar as decisões. “Não teríamos chegado nesse ponto (se houvesse)”, disse.
Já a Coordenadora Regional de Saúde, Mariluce Reis, o trabalho dos hospitais é reconhecido por ela, no entanto, se o momento é ruim para as instituições de saúde, para o Estado não é diferente com um déficit de 1,5 bilhões mensais. “O Estado está na UTI também”, disse. “O governo teve que cortar em algum lugar e infelizmente foi nos incentivos (IHOSPs)”, declarou. Ela justificou também que no momento não há recursos novos para investir. “Vamos ter que trabalhar com o que temos e vamos ter que economizar no que der”, finalizou.
Foto Luana Ciecelski
Diretores e representantes de hospitais discutiram as dificuldades com os secretários e coordenadores de saúde e com a comunidade
A SITUAÇÃO DE CADA INSTITUIÇÃO
Hospital Ana Nery (HAN)
Sede do Centro de Oncologia Integrado (COI) que é referência para todos o município da 13ª Coordenadoria de Saúde, o HAN fechou 2014 com um saldo negativo de R$ 3 milhões. Parte disso se deve pela Tabela do SUS que está desatualizada e que paga, por exemplo, R$ 10,00 por uma consulta oncológica. “O hospital se vê obrigado a complementar, se não logo não teríamos profissionais”, explica Lídio.
A dívida também é amplificada pelo não pagamento do IHOSP, pelo aumento anual no número de doentes com câncer, pelo aumento no valor das contas – “A energia elétrica utilizada na radioterapia teve seu valor aumentado em 60%”, exemplifica Lídio – e pela necessidade de fazer empréstimos que acabam gerando juros.
Hospital Santa Cruz (HSC)
Um dos principais hospitais da região, responsável pelo atendimento de Urgência e Emergência do SUS (antigo Pronto Atendimento – PA) também está com grande dificuldade de equilibrar as contas e a causa é o congelamento fe recursos federais, a retirada de recursos estaduais e a defasagem da tabela do SUS. Para exemplificar, o problema Vilmar Thomé, diretor do hospital apresentou um gráfico mostrando que desde o início do Plano Real em 1994, enquanto a energia elétrica subiu 553%, a água 853% e o transporte coletivo 1000%, a tabela do SUS sofreu reajuste de apenas 73%. “Com essa realidade, não há como ter um ponto de equilíbrio”, disse Thomé.
Com isso, de janeiro a maio de 2015 a instituição somou 4,5 milhões de déficit, em uma média de 1,5 milhão mensal. Desses, R$ 234 mil são provenientes apenas da Urgência e Emergência que custa R$ 827,5 mil por mês, mas recebe apenas R$ 593,4 mil do governo. Thomé esclareceu que são repassados ao hospital R$ 160,7 mil da União, R$ 307,5 mil do Estado e R$ 125,2 mil do Município.
Hospital Monte Alverne
Já o Hospital Monte Alverne está fechando as contas todos os meses com cerca de R$ 25 mil negativos e a instituição não sabe quanto tempo mais irá resistir à falta de verbas. Com 35 leitos, 26 destinados ao SUS, a representante Rosângela Mees Gaas, afirma que a maior preocupação da instituição é com os moradores do interior, que são quem mais utiliza os serviços. Foi destacado ainda o papel fundamental da entidade para desafogar os hospitais da cidade.
“No momento nós estamos com as contas em dia, mas isso só vai durar mais uns quatro ou cinco meses e eu não vou mais ter como segurar as pontas. O IHOSP não está mais sendo pago e era o dinheiro que dava para equilibrar a situação. Eu não sei o que será o Hospital Monte Alverne”
Comunidade Terapêutica Recomeçar
Com 60 leitos a Comunidade Terapêutica Recomeçar destina 25 das vagas para uma parceria com o município e 30 vagas são destinadas à Secretaria de Saúde do Estado. De acordo com Antônio Weber, que estava representando a instituição, de janeiro a maio de 2015 das 3.700 diárias conveniadas foram utilizadas 2.137, o que representa 57% e já traz dificuldades. Além disso, o convênio nunca sofreu um reajuste de forma que, desde 2009 a instituição continua recebendo R$ 1 mil por paciente.
Dessa forma a instituição se viu obrigada a fazer empréstimos para alimentar os pacientes e pagar contas como luz e água. Foram realizados também eventos com o intuito de arrecadar fundos, no entanto o apoio da comunidade não é suficiente. Com 75 mil reais em gastos mensais, a Recomeçar está com R$ 17 mil de déficit mensal atualmente. Segundo Weber, mesmo que a partir de agora tanto o município como o Estado pagassem os 55 leitos conveniados, ainda seria necessário correr atrás de dinheiro para saldar dívidas acumuladas.