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Hidroxicloroquina: Automedicação pode ser perigosa

Tomar a droga sem prescrição médica pode colocar a sua vida em risco

Grasiel Grasel
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Cloroquina e hidroxicloroquina não devem ser consumidas sem prescrição – Freepik

Segundo uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, publicada em abril deste ano, tomar medicamentos sem prescrição médica é um hábito comum a 77% dos brasileiros. Como cientistas ainda buscam por uma vacina eficaz contra a Covid-19, diversas pessoas têm defendido a tese de que a cloroquina e a hidroxicloroquina (HCQ) deveriam ser parte do tratamento, pois algumas evidências apontam para uma possível eficácia, mas segundo médicos e especialistas, isso não é motivo para que a droga seja consumida sem prescrição.

Segundo uma nota técnica divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em abril, uma única dose de 30 mg/kg de cloroquina pode ser fatal e, portanto, assim como todos os outros, este é um medicamento que só deve ser consumido sob orientação de um médico. “Estudos in vitro mostram a eficácia da cloroquina contra o SARS-CoV-2, agente etiológico da Covid-19. No entanto ainda não há evidência suficiente da sua eficácia em seres humanos”, diz o documento.

MÉDICO PEDE CUIDADO

Em entrevista ao Riovale Jornal, o médico intensivista responsável pela UTI Adulto do Hospital Santa Cruz e Hospital Ana Nery e coordenador da UTI-Covid, Rafael Foernges, adverte especialmente sobre o uso da hidroxicloroquina sem prescrição médica, pois ele carrega o perigo de uma arritmia cardíaca, que pode gerar sérios problemas para pessoas que já tenham alguma doença do coração. “No cenário atual, o uso da hidroxicloroquina é muito mais baseado em mídia, redes sociais e política, porque em evidência médica não há nenhuma indicação para utilizá-la hoje”, explica Foernges.

A falta de estudos que mostrem benefícios claros tem sido o maior motivo para médicos não recomendarem o uso dos medicamentos, pois é muito difícil isolar sua eficácia enquanto várias outras drogas também são utilizadas no tratamento de pacientes. É por isso que os profissionais da saúde só podem fornecer a cloroquina ou a hidroxicloroquina com o consentimento do paciente.

Segundo Foernges, na maioria dos casos o único tratamento eficaz é o que já é administrado regularmente para os pacientes em estado grave. “Para doenças virais como essa o tratamento é de síndromes, com terapia intensiva, com suporte intensivo, parte de ventilação, uso de oxigênio e terapias adjuvantes pra pacientes com trombose”, afirma.

O médico também recomenda que, ao apresentar sintomas de uma doença que persista por mais de uma semana, seja da Covid-19 ou não, o paciente deve buscar orientação de um profissional da saúde, que poderá recomendar o tratamento mais adequado para o seu caso levando em consideração os efeitos que cada medicamento pode causar para quem tem determinadas pré-disposições.

EFICÁCIA QUESTIONÁVEL

Recentemente, líderes de um estudo clínico que envolve 11 mil pessoas e vem sendo realizado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, anunciaram que não puderam encontrar nenhum benefício no tratamento com a hidroxicloroquina. Na parte do estudo que avalia a eficácia do medicamento, os 1.542 pacientes que utilizaram a droga não apresentaram nenhum sinal de melhora diferente dos 3.132 que receberam tratamento hospitalar padrão. Os testes deverão seguir com outros fármacos que se mostraram potencial em combater o vírus. Até o momento, nenhum estudo com as mesmas proporções atestou qualquer eficácia no uso do medicamento.