
Sara Rohde
[email protected]
A história do Templo de Umbanda Pai Ogum Beira-Mar e Mãe Oxum iniciou há 32 anos, mas a vida do Pai Antônio e da Mãe Lourdes já estava traçada, pois o destino já esperava pela união dos dois. Conforme contou Pai Antônio, a chegada do casal ao município foi humilde, uma chegada simples, pois não havia o que comer, não havia móveis para mobiliar uma casa. Era apenas Antônio, Lourdes, um filho, um cachorro, uma geladeira, uma mesa de seis cadeiras, uma cama e um fogão velho atado com arame. “Chegamos sendo Antônio e Lourdes sem intenção de sermos o que somos hoje, o Pai Antônio e a Mãe Lourdes. O que queríamos era fazer o bem sem olhar a quem, ajudar as pessoas e estar junto na comunidade. Não queríamos pregar a religião, nós queríamos pregar bondade e caridade”, e foi assim que tudo começou.
O casal morava em Vera Cruz, na mesma rua, com apenas três quadras de diferença, mas não se conhecia, nunca se cruzou. Na época Mãe Lourdes tinha 15 anos. E o destino trabalhava para unir os dois. Passaram-se muitos anos e a vida fez com que os dois morassem novamente na mesma rua, mas sem nunca terem se visto. Foram se encontrar dentro de um terreiro e assim iniciou a caminhada. Hoje são casados há 29 anos.
Antônio queria ser somente o Antônio e ser alguém para ajudar a comunidade. E ajudou muito. Até que um dia chegou um jornalista e disse para ele colocar no jornal as boas ações realizadas em prol das pessoas, mas Pai Antônio ficou com receio que parecesse algo comercial, de quem queria se aparecer, foi então que ouviu o quanto importante poderia ser esta divulgação. A primeira campanha publicada no jornal rendeu mais de 4 mil brinquedos.
A história de Pai Antônio é longa. Em meio a dificuldades, fome, tristeza e diversos aprendizados, até se tornar o que é hoje. E seguindo com um único objetivo, fazer o bem. Com onze anos de idade um médico disse pra ele procurar uma curandeira. Foi então que chegou à uma Mãe de Santo e ela o barrou, não deixou Antônio entrar na casa, alegando que ele estava carregado. “Eu adormeci em pé, acordei no outro dia e ela me disse: tu vai ter que um dia ajudar as pessoas”.

O tempo passou e após um período de experiências Antônio encontrou a Lourdes, casaram e iniciaram uma história. “Um dia eu estava atendendo e uma mulher bateu em nossa porta dizendo que precisava de ajuda, ela baixou os olhos e eu disse, seu problema é fome! Fazia três dias que ela não comia. Foi nesse momento que eu chorei muito, muito mesmo, aí veio a lembrança de quando eu tinha prometido a Jesus que eu ajudaria as pessoas”, disse emocionado.
Naquele tempo Antônio trabalhava em uma loja, e após um período, se destacou como vendedor, pois vendia muito. Antônio se tornou gerente, o primeiro gerente negro de uma loja. Certo dia seu caboclo disse: volta para sua casa, o senhor vai trabalhar dentro de casa. E desde então Pai Antônio largou tudo e não parou mais de fazer o bem ao próximo, era sua proposta perante a Jesus.
Pai Antônio pediu ajuda, e não para ele, mas sim para as pessoas. Foram toneladas de comidas doadas e muitos se sentiram acolhidos pelo casal. Até hoje Pai Antônio e Mãe Lourdes ajudam o próximo, arrecadam diversos produtos e doam. Eles ajudam os mais necessitados, as pessoas que realmente precisam de comida, agasalhos, móveis, produtos de higiene e brinquedos para as crianças.
Na história não se pode esquecer uma ligação que o pai Antônio recebeu, onde uma doação seria realizada, mas só se tornaria possível se o mesmo virasse presidente da Associação de Apoio às Pessoas Carentes Necessitadas de Santa Cruz do Sul. Antônio aceitou na mesma hora e recebeu uma Kombi e aproximadamente R$ 7 mil, valor para comprar um fogão industrial, geladeira, pratos e talheres, e assim montar um restaurante solidário. Mãe Lourdes doou o carro que tinha e juntos fizeram um prédio para ajudar a comunidade pobre. Foi construído um espaço onde eram servidas refeições sem custo aos necessitados.
Várias pessoas e empresas em Santa Cruz do Sul abriram as portas para Pai Antônio e Mãe Lourdes e apoiaram a causa. A entidade chegou a participar do desfile de Sete de Setembro e a comunidade aplaudia e elogiava o trabalho realizado em prol das pessoas. “Eu fui o primeiro Pai de Santo a hastear a bandeira do Brasil aqui no município”, disse.
Pai Antônio e Mãe Lourdes já participaram de diversas atividades. Um evento marcante que ocorreu há poucos dias foi a participação em um enterro. “As pessoas aplaudiram, era o enterro de um amigo meu que pediram que eu fizesse a encomenda do corpo. A gente não prega a tristeza nem na partida, algo que respeitamos, pois é o chamado de Deus. Independente da forma que a pessoa for, era a hora, era o chamado de Deus. Quando as pessoas não aceitam a morte, elas estão julgando a vontade do nosso Pai, devemos aceitar a partida, pois ele disse, vinde a mim todos aqueles que estiverem em sofrimento”.
No dia 21 de julho foram completados 32 anos de atividades em prol da solidariedade, do bem e do amor. O Templo de Umbanda Pai Ogum Beira-Mar e Mãe Oxum tem o lema em sua bandeira que diz o seguinte: Amor, Verdade e Justiça.
Conforme Pai Antônio, nesses 32 anos muitas coisas aconteceram. “Agradeço a Deus por ele me dar forças para poder ser quem eu sou e continuar sendo assim. A vida é feita de ensinamentos. Nesses 32 anos eu aprendi como ser mais humilde, como ser bom, independente de quem está debochando de mim, aprendi que fazer o bem não é só pra pessoa, pois pra Deus tu estás fazendo bem. Quando tu doa alguma coisa de coração aberto, Deus está te olhando neste ato. Nesses 32 anos eu aprendi muito, de que o mestre deve ser maleável, um conselho para quem quer separar, para quem quer reatar, um conselho para quem quer se casar, um conselho para não destruir a família, você deve entrar e dizer quem é o teu Deus. Aprendi a respeitar para ser respeitado. Esses 32 anos me ensinaram a ser piedoso pelo ser humano e pelos animais. Ajudamos sem religiosidade, só pelo amor a Deus”, concluiu.














