Houve um tempo em que muitos comentaristas, e até treinadores, entendiam que não se poderia jogar mais com dois ponteiros. O Grêmio é um exemplo recente que refuta essa ideia. Ao assistir alguns jogos do Tricolor em 2021, ficou perceptível a presença de um jogador ofensivo pela direita (Luiz Fernando), outro pela esquerda (Ferreira), na tentativa de abastecer um centroavante (Diego Souza). É uma formação clássica de ataque: dois ponteiros e um avante central.
De 2016 para cá, o Grêmio tem encontrado ótimos ponteiros-esquerdos: 1) Pedro Rocha. 2) Everton. 3) Pepê. 4) Ferreira. Em uma história rica em termos de grandes jogadores, obviamente o Grêmio tem, nessa posição de ponta-esquerda, vários nomes referenciais. Aos gremistas mais antigos, um atleta que traz lembranças especiais é Vieira, que jogou pelo clube nas décadas de 1950 e 1960. Essa foi uma das melhores fases do Tricolor, com muitos títulos gaúchos conquistados, e Vieira foi, certamente, um jogador importante do período. Vieira é considerado o “Zagallo do Grêmio”, pois jogava como ponta-esquerda recuado, compondo o meio-campo.
Nos anos 90, Carlos Miguel realizou algo semelhante: jogava aberto pela esquerda e fazia a composição de meio-campo. Em 1995, no bicampeonato da Libertadores, o Grêmio colocou em campo dois jogadores com características semelhantes: Carlos Miguel e Arílson. Apesar de canhoto, Arílson foi deslocado para uma faixa mais central, deixando Carlos Miguel com maior frequência pelo lado esquerdo.
O que Arílson desenvolveu em 1995 havia sido feito por Mário Sérgio no título mundial de 1983. Mário Sérgio, canhoto, originário da ponta-esquerda, jogou como um meia centralizado naquela conquista. Na ocasião, a ponta-esquerda ficou por conta de um destro: Paulo Cézar Caju. Um pouco antes, na conquista da Libertadores de 83, Tarciso (também destro) jogou nessa posição. Aliás, Tarciso foi ponta-direita no título brasileiro de 1981, ponta-esquerda na Libertadores de 83 e centroavante no Mundial de 83. No Brasileirão de 81, o ponta-esquerda era Odair.
Tarciso, aliás, compôs um ataque poderoso no título gaúcho de 1977, jogando pela ponta-direita, ao lado de André Catimba (centroavante) e Éder (ponta-esquerda). Éder foi um dos grandes nomes do futebol brasileiro na ponta-esquerda, um dos destaques da Seleção Brasileira “mágica” de 1982. No final da década de 80, Paulo Egídio brilhou nessa posição pelo Grêmio, conquistando a primeira edição da Copa do Brasil. Outro nome que merece destaque é Volmir (décadas de 60 e 70). De fato, o Grêmio possui longa tradição na ponta-esquerda, preservada ao longo do tempo.