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Gobbi: "2017 deverá ser melhor"

LUANA CIECELSKI
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Dando continuidade às entrevistas com diretores de hospitais de Santa Cruz do Sul, na edição dessa sexta-feira, 30 de dezembro, foi a vez do diretor executivo do Hospital Ana Nery, Gilberto Gobbi, fazer um balanço da situação do hospital no ano de 2016 e contar quais são as expectativas para 2017.
Durante a conversa, Gobbi destacou a falta de repasses do Governo do Estado e a defasagem na tabela do SUS, as grandes causadoras das dificuldades financeiras enfrentadas pela instituição em 2016. Positivo, no entanto, ele também apontou diversos projetos que tem para o hospital e que devem ser postos em prática ainda em 2017. “Apesar das dificuldades, estamos seguindo”, disse ele. Confira: 

Como foi o ano do Hospital Ana Nery?

Os hospitais já vinham, e o Ana Nery não foge desse contexto, de um ano de 2015 muito difícil, com dificuldades financeiras bastante fortes. E em 2016, infelizmente, não foi diferente. A gente também sofreu com essa questão financeira. Apesar de termos tomado medidas no decorrer do ano pra reduzir despesas, pra conseguir se adequar a essa realidade, mesmo assim a questão financeira certamente foi o que mais nos preocupou e fez com que buscássemos alternativas. Contabilmente a gente conseguiu se ajustar. No balancete a gente está em uma situação bastante razoável. O problema é a questão financeira, em função de que as dificuldades do Governo do Estado são notórias pra todo mundo, e os hospitais são afetados também. Em função disso a gente tem um montante bem considerável pra receber e esperamos que em 2017 as coisas comecem a entrar em um patamar mais “normal”, digamos assim. 

O que é que vocês têm pra receber?

A gente tem um valor a receber referente ao teto da oncologia, que são R$ 217 mil mensais que vieram do Hospital de Rio Pardo para o nosso, e que infelizmente o Governo Estadual está tendo dificuldade em colocar em dia. E isso também tem nos causado dificuldades financeiras. 

 

Gobbi: expectativa é de que as medidas dos Governos Federal e Estadual, repercutam em benefício à saúde

 

Vocês também têm problemas em relação à tabela do SUS. Especialmente no que se refere à oncologia. 

Sim. Como a gente tem um alto volume de oncologia no hospital, pelo SUS, chega a quase 95% dos nossos atendimentos, e são tabelas (as do SUS) defasadas há vários anos – se nós pegarmos as tabelas de oncologia de oito ou nove anos atrás a gente vai ver que (hoje) são os mesmos valores pagos naquela época – isso acaba nos criando dificuldades, porque as nossas despesas são acrescidas ano a ano, quer com funcionários, quer com medicamentos e outros custos, sem que tenhamos a contrapartida no outro lado. Esperamos que o Governo Federal se sensibilize com a situação e consiga, pelo menos, dar algum tipo de reajuste, ou uma atualização nas tabelas. Isso certamente amenizaria muito a dificuldade financeira das instituições. 

Tu falaste antes que houve alguns cortes e ajustes. O que isso engloba?

A gente fez ajustes em termos de readequações de setores, e também, lá em março a gente fez uma readequação no organograma do hospital. A gente teve que, infelizmente, desligar pessoas e essas pessoas não foram repostas. A gente conseguiu empregar em outros setores esses serviços. Felizmente a gente não deixou de fazer absolutamente nada, a gente conseguiu fazer a mesma coisa com menos pessoas. 

Isso influenciou de alguma forma no atendimento?

Não. Isso eu gostaria de frisar. No atendimento ao paciente a gente não fez nenhum tipo de corte. Onde a gente tinha atendimento assistencial dos nossos pacientes, nós não fizemos nenhum tipo de corte. A gente manteve a mesma equipe, mantivemos os treinamentos, mantivemos toda a política de humanização. O que a gente fez foi em áreas não assistenciais. Na administração, no marketing. Na parte financeira eu mesmo assumi muita coisa pra que a gente pudesse trabalhar com menos pessoas. 

Vocês tinham algumas obras em andamento, relacionadas à oncologia e ao atendimento SUS. Como está isso?

Em função das questões financeiras as obras tiveram uma redução no ritmo e algumas até mesmo foram paradas. A gente quer retomar isso em 2017. A gente quer fazer uma reforma na quimioterapia (no setor), melhorar o ambiente, melhorar fluxo. A gente vai fazer uma reforma no nosso ambulatório, também visando melhorar fluxo e melhorar para o paciente que chega. A gente também espera, entre fevereiro e março, poder colocar à disposição da comunidade, uma unidade que está sendo reformada, que está em fase final, e que terá provavelmente em torno de 15 leitos novos. No Centro Cirúrgico a gente também quer fazer uma modificação no fluxo de pacientes, com alteração de sala de recuperação e da entrada dos pacientes, pra nos proporcionar a utilização de mais uma sala cirúrgica e com isso aumentar a nossa capacidade de atendimento. E quando estiver pronto o nosso ambulatório, também poderemos aumentar em dois leitos a nossa UTI, o que vai melhorar nossa capacidade de atendimento de sete pra nove leitos. Ainda pra 2017 a gente também tem a expectativa de receber o segundo acelerador linear. Estamos esperando sair o resultado da licitação pra construir o ‘bunker’ (estrutura subterrânea fortificada) e então instalar o segundo acelerador linear que vai dobrar nossa capacidade de radioterapia. 

Falando em ampliações, esse ano de 2016 também foi um ano de parceria com a Prefeitura, correto?

2016 foi um ano difícil, sim, foi um ano trabalhoso, mas também foi um ano que nos proporcionou duas alegrias. A gente pôde fechar essa parceria com a Prefeitura em fazer a gestão do Hospitalzinho, que nós chamamos de Casa de Saúde, e também a UPA. Eu não tenho dúvida nenhuma de que esses dois espaços trouxeram outro tipo de atendimento de urgência e emergência pra Santa Cruz do Sul. Lá na Casa de Saúde a gente fez toda uma revitalização para adequá-la à legislação vigente e proporcionar condições técnicas de atendimento de urgência e emergência. E na UPA também. A gente conseguiu colocar em funcionamento, agregando à comunidade, e funcionando dentro do que a gente espera e dentro do que a população precisa. 

E em 2017 vocês vão continuar com essa parceria?

A ideia é continuar. Com seis meses de andamento a coisa cada vez mais vai se ajustando. Todo o serviço novo, eu já presenciei isso em outros momentos, ele está sujeito a ter contratempos, porque a gente faz toda uma projeção, um planejamento, mas muitas vezes ele não acontece na prática. Felizmente a gente teve a graça e a satisfação de ver tudo transcorrer normalmente e de agora em diante a ideia é fazer com que se estabilize cada vez mais e melhor. 

E pra finalizar, quais são as expectativas pra 2017?

A expectativa é de que as medidas, apesar de amargas, dos Governos Federal e Estadual, repercutam de alguma forma em benefício à saúde. Como eu coloquei antes, estamos há mais de oito anos sem nenhum tipo de atualização nas tabelas e esperamos que para o ano que vem a gente consiga chegar nesse patamar. E que o Governo do Estado consiga, pelo menos, pôr em dia esses recursos que nos devem, e proporcionar assim, condições de fazer todos os investimentos que queremos. Pelo o que a gente tem acompanhado, a nossa expectativa é de que no segundo semestre do ano que vem haja uma melhora em vários sentidos e isso deve nos proporcionar um 2017 bem melhor do que foi o ano de 2016. 

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Gobbi também destacou ainda que durante o ano de 2016, o hospital conseguiu inaugurar três novos postos de coleta, facilitando para a população de bairros mais periféricos e que conseguiu fazer uma série de investimentos em equipamentos para a UTI e para o bloco cirúrgico contando com verbas provenientes de emendas parlamentares. Ele também citou a inauguração, no início desse mês, da tecnologia IMLT, através da qual é possível atingir só o tumor, preservando os tecidos próximos, durante o tratamento oncológico. “O paciente tem menos intercorrências posteriores ao tratamento com essa tecnologia. Nós somos praticamente os primeiros do interior do Estado a tê-la”, contou. 
Por fim, Gobbi também destacou o apoio da comunidade. “O Hospital Ana Nery nasceu da comunidade. Ela que construiu ele e ele é da comunidade e por isso, ele vai procurar sempre fazer o melhor possível para sua comunidade. É dela que advêm os recursos. O que nós temos hoje devemos à comunidade. E é isso que a gente quer: dar um retorno à comunidade”.