Nelson Treglia
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O Dia do Garçom e o Dia do Advogado acontecem na mesma data, 11 de agosto. Para lembrar as duas comemorações, o ‘Riovale Jornal’ conversou com Flavio Lemos da Silva, com o intuito de conhecer um pouco sobre a realidade que abrange essas profissões. Afinal, Flavio já trabalhou como garçom e, atualmente, é advogado.
Leia a entrevista na íntegra:
Riovale – Quais são as recordações da época de garçom? São recordações positivas? Por quê?
Flavio – São recordações alegres e positivas. Os cafés acolhedores nas manhãs de sábados entre os colegas, a parceria de gente humilde e honesta e o convívio com clientes educados e sempre dispostos a um sincero elogio são as recordações mais presentes, que me trouxeram grandes aprendizados.
Neste período da minha vida fiz grandes amigos, dos quais, hoje, muitos viraram também clientes enquanto advogado.
Riovale – Por quanto tempo você foi garçom? Trabalhou em restaurantes?
Flavio – Por cerca de quatro anos. Trabalhei em dois grandes restaurantes da cidade.
Riovale – Como foi a transição da profissão de garçom para advogado? Como ocorreu essa decisão?
Flavio – Não houve transição, pois a atividade de garçom sempre ocorreu paralelamente, ou seja, ocorria no intervalo do meio-dia da atividade principal. Era também uma maneira de economizar e complementar minha renda.
Fiz estágio na Prefeitura e depois ingressei em escritório de advocacia, como oficce boy, depois estagiário e hoje advogado.
Na Prefeitura tive a influência de um colega, que me pagou um teste vocacional para ingressar na faculdade – onde o resultado foi: Direito – e, por ele também ser advogado, me aconselhava a seguir a profissão.
Minha família e meus atuais colegas de trabalho, através de dicas, conselhos e exemplos, sedimentaram a decisão de seguir a carreira de advogado.
Tive que parar com a atividade de garçom, há mais ou menos um ano, porque o tempo não é mais suficiente para conciliar as duas atividades.
Riovale – Há quantos anos atua como advogado?
Flavio – Há quase um ano. Logo após minha formatura, em agosto do ano passado, já obtive a inscrição como advogado, pois havia passado previamente no exame da OAB. Desde então atuo como advogado.
Riovale – Quais as diferenças e semelhanças entre as duas profissões?
Flavio – Eu diria que, essencialmente, uma se destina a servir e outra a defender. E, como semelhanças, que ambas as profissões exigem agilidade, proatividade na prestação dos serviços e bastante preparo do profissional para saber como lidar com pessoas de diferentes características e estados emocionais.
Riovale – Você entende que diferentes experiências profissionais colaboram para um maior crescimento pessoal? Por quê?
Flavio – Sim, tendo em vista que a convivência com diferentes pessoas e em diferentes profissões proporciona conhecimento prático, o que é essencial para compreender que pessoas e profissões são diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. Aliado a isso, entendo que crescimento pessoal, exige boa interação com aqueles de nossa convivência. Se diz que para ser feliz é preciso fazer os outros felizes, o que me parece uma grande ideia.
Riovale – Quais os maiores desafios na atual profissão de advogado e quais foram os maiores desafios na profissão de garçom?
Flavio – Entendo que para ambas as profissões o grande desafio é a relação sincrônica com pessoas, na amplitude que isso impõe.
Com relação ao advogado, me parece que o atual grande desafio seja superar a insegurança jurídica ocasionada por recentes e significativas mudanças legislativas. Dar objetividade ao cliente para solucionar determinada situação apresentada, em meio a inúmeros entendimentos e posicionamentos divergentes do Judiciário, tem sido o maior desafio.
Quanto ao garçom, eu, particularmente, tive desafio de uma vida muito corrida, conciliando essa atividade com a faculdade e outro trabalho. Entretanto, o grande desafio do garçom é o reconhecimento e fortalecimento da profissão. A atividade exige muito trabalho e dedicação como qualquer outra, ao passo que, todavia, por vezes é vista equivocadamente apenas como um “bico”, um “quebra-galho”.
Riovale – Qual sua área de atuação como advogado?
Flavio – Direito do Trabalho e Direito do Trânsito. Acho relevante estudar e desenvolver ideias relacionadas a estes temas tão presentes em nosso dia-a-dia.
Riovale – Você entende que a sociedade depende muito das duas profissões, advogado e garçom? Por quê?
Flavio – Sim, a sociedade precisa das duas profissões, por desenvolverem tarefas essenciais; uma como meio de acesso ao Judiciário na busca de direitos e a outra ao bem-estar e alimentação dos clientes frequentadores dos estabelecimentos, o que também é importante para a economia.
Riovale – O que é preciso para ser um bom advogado e um bom garçom? Quais características são importantes para ambos?
Flavio – Tenho comigo que, em última análise, um bom advogado deve falar, escrever e conhecer, o que se trata de uma tarefa árdua, pois deve ser feito com substância, dada a ênfase que a profissão exige. E, isso requer um insistente e longo caminho de muito estudo e trabalho.
Um bom garçom deve, principalmente, conhecer seu trabalho e os produtos que está a vender, pois de nada adiantará um buffet bem variado e decorado, se não existir um profissional que saiba vendê-lo e servi-lo. O garçom é o cartão de visitas do estabelecimento, pois representa o nome e a proposta da empresa, sendo muitas vezes o único contato desta com o cliente.
Ambas as profissões exigem empenho, boa apresentação pessoal, educação, ética, honestidade, diplomacia, paciência e profissionalismo.