
VAGNER CERENTINI
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Para encerrar o pequeno ciclo de filmes com foco na Infância, exibidos no decorrer deste mês, a Associação Amigos do Cinema apresenta hoje o documentário brasileiro “Tarja Branca – A Revolução que Faltava”, de Cacau Rhoden, 2013, 80 min. E na sequência o sociólogo Caco Baptista, professor da Unisc, comenta o filme. A sessão acontece às 20h, na sede do Sindibancários, Rua Sete de Setembro, 489, com o apoio de Sindibancários e Escritório Fuerstenau.
O longa-metragem produzido por Maria Farinha Filmes conta com um roteiro impecável, o filme intercala saborosas imagens de brincadeiras e de manifestações populares brasileiras com entrevistas de artistas, pesquisadores, psicólogos, psicanalistas, terapeutas, pedagogos e brincantes em geral. Os depoimentos de José Simão, do multiartista Antonio Nóbrega, do escritor Marcelino Freire e do músico e ator Wandi Doratiotto se equilibram com os depoimentos de estudiosos e pesquisadores e de personagens comuns que brincam a cultura popular, como é o caso de Geraldo Antonio da Silva, capitão da Congada Guarda de Moçambique, de Belo Horizonte.
A trilha sonora é composta por cirandas, maracatus, cocos, sambas e outros ritmos nacionais que fazem um casamento harmonioso e emocionante com a fotografia de Janice D’Ávila. O conjunto da obra leva ao espectador a compreensão do tema pelo sentimento, mais do que pela razão.
Do início ao fim, a montagem de André Finotti conduz o espectador a esta reflexão por meio de um ritmo orgânico, que evolui sem que se perceba, naturalmente, sem forçar a barra. Assim como as brincadeiras. O casamento que o documentário promove entre as brincadeiras e as manifestações culturais típicas brasileiras é comovente, além de fazer todo o sentido. “A grande riqueza da cultura popular é que ela é a chance de você ter uma segunda infância”, afirma a coreógrafa Andrea Jabor, entrevistada num Rio de Janeiro ensolarado tendo ao fundo o deslumbrante Morro Dois Irmãos.
A impressão que se tem quando o filme acaba é que a equipe viajou pelos rincões do Brasil todo para captar a beleza e alegria de um povo brincante com o objetivo de alertar sobre a importância de não deixar a brincadeira morrer, especialmente nas grandes cidades, onde há cada vez menos espaço para o lúdico. “Tem gente que morre e que apenas uma ou duas cordas da lira foram acionadas. As outras ficaram em silêncio a vida toda. É no brincar que você dedilha a lira inteira”, lamenta Lydia Hortélio, professora e pesquisadora de música tradicional da infância.
Para Lydia Hortelio, a solução para muitos problemas da sociedade vem junto com crianças brincantes. “Eu estou pela revolução que falta, que é esta revolução da criança. É isso que vai nos tirar deste mal-estar, dessa tristeza generalizada que a gente vê nas pessoas, essa falta de alegria que a gente está vivendo”, afirma. E vai além: “A gente está vendo a rebeldia das crianças nas escolas, o número de crianças encaminhadas para terapeutas e a escola sem poder resolver a questão da violência. E a violência está aí porque as pessoas foram violentadas na sua capacidade de ser gente”, afirma Lydia.
Pião, bolinha de gude, pipa, carrinho de lata, cantigas de roda. Para a criança, é simples ser feliz em um mundo de brincadeira. Por que, então, depois de adultas, as pessoas acham vergonhoso brincar? “Quem brinca é mais feliz. Ponto. Eu não tenho dúvida. E eu acho que é o grande lance. Todo mundo quer ser feliz. Tudo bem, você quer ter dinheiro, ter conforto… Mas fundamentalmente, o que a gente quer? Felicidade”, diz Andrea Jabor. (fonte: Xandra Stefanel).














