LUÍSA ZIEMANN – [email protected]
Com 15 anos de idade, ir para um dos maiores festivais de música do país – e com as amigas, sem nenhum pai ou adulto junto para controlar a folia – é, com certeza, umas das maiores ambições dos adolescentes. O meu primeiro Planeta Atlântida, em 2009, foi um presente de 15 anos da minha mãe. Na época, o melhor presente que eu poderia ganhar. A euforia que antecederam os dias do festival, o tempo dedicado para organizar a viagem, a roupa que eu iria usar: tudo girava em torno do Planeta. Desde então, já foram 12 edições da festa que eu estive presente – podendo dizer que ela se tornou um dos meus amores de verão.
Hoje, com quase 30 anos de idade, o evento tem outro significado pra mim, mas o sentimento de estar de volta é sempre o mesmo: entusiasmo. Depois de dois anos sem ser realizado por conta da pandemia do novo coronavírus, o último final de semana foi a hora do Planeta voltar a girar. A 26ª edição do Planeta Atlântida foi realizada na sexta-feira e no sábado, nas dependências externas da Sociedade Amigos Balneário Atlântida (Saba), em Xangri-lá, no Litoral Norte. Nos dois dias de evento mais de 80 mil pessoas puderam curtir shows dos mais variados estilos musicais. O sucesso pode ser medido pelo sold out nos ingressos, atingido na última noite da programação.
Como acontece desde 1996, o Planeta espelha as tendências sonoras e da moda do ano em que é realizado. Se nos primeiros anos de festival o rock predominava a cena, há muitas edições o evento é marcado pela diversidade. Em 2023 o line-up não poderia ser diferente: teve sertanejo, com Matheus e Kauan e Luan Santana; pagode, com Dilsinho; funk, com Poze do Rodo; eletrônica, com Dubdogz e Vintage Culture. E muitas outras atrações que foram do pop ao rap, agradando também os mais diferentes tipos de público que se fizeram presentes.
Este ano, fui ao Planeta somente no segundo dia, no sábado – até mesmo porque para aguentar a maratona de mais de 24 horas de shows, divididos em dois dias, é preciso ter muita disposição. Coisa que aos 15 ou 16 anos é fácil, mas beirando os 30 os joelhos e a coluna reclamam um pouco mais. Logo ao passar pelas catracas que dão acesso ao festival, me surpreendi com a multidão de gente. Que a festa é sempre um sucesso de público não é novidade, porém, os anos em que ela não pôde ser realizada parecem ter motivado ainda mais os planetários a retornaram. Ou a irem pela primeira vez, já que o Planeta ainda preserva os ares de rito de passagem da adolescência dos gaúchos, como o primeiro voto ou o primeiro amor.
Entre os milhares de jovens munidos de suas shoulders bags e maquiagens com strass, também era possível encontrar uma parcela de planetários mais vintage – para não dizer, mais velhos, como eu. O que também me surpreendeu – positivamente – foi avistar muitos casais com média de idade entre 30 e 40 anos, que vibravam ao som de clássicos como Jota Quest, Armandinho, Reação em Cadeia e um show pra lá de especial: tributo aos 30 anos de Charlie Brown Jr. Artistas que marcaram a adolescência desse público – que talvez não seja tão a cara do Planeta assim, mas que demonstram como o festival é capaz de agradar todas as idades.
ENTRE PAIS E FILHOS
Prova disso, aliás, foi a quantidade de famílias vistas no festival. Uma cena específica me chamou atenção: enquanto a filha adolescente pulava, cantava e vibrava ao som de Matuê – e também se preocupava em não perder nenhum momento do show, registrando tudo em seu celular -, os pais a acompanhavam, um de cada de lado, com sorrisos estampados no rosto. A felicidade deles, é claro, era fruto da felicidade dela – que, muito provavelmente, estava realizando um sonho por estar ali.
Mas este não foi um caso isolado. Bastava caminhar poucos metros para se deparar com mais duplas de mães e filhas, ou de pais e filhos, aproveitando o Planeta juntos. Da mesma forma que estes pais acompanharam a empolgação dos adolescentes quando o MC de funk Poze do Rodo subiu ao palco, ou quando o cantor Jão fez sua estreia no festival, os filhos também puderam sentir a emoção dos veteranos quando os mineiros do Jota Quest se apresentaram, tocando clássicos atemporais em sua 15ª vez no evento – são os campeões de participações no Planeta.