Alyne Motta
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Valorizar nossas raízes campeiras, cantando a saga de um povo extremamente fiel às tradições, foi o que inspirou o surgimento dos grandiosos festivais nativistas, que se mantêm vivos até hoje, inspirados nas origens e na alma do gaúcho, herdeiro natural dos ideais farroupilhas de igualdade, liberdade e humanidade.
Onde acontecem, deixam um legado cultural. O movimento nativista, e seus festivais, tiveram início em 1971, com a criação da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana. Idealizado por Colmar Duarte, ocorreu em duas etapas, sendo a final nos dias 17 a 19 de dezembro.
De lá pra cá, outros festivais foram surgindo. Atualmente chega a ter mais de um evento por final de semana, sendo uma oportunidade para vários músicos, que têm a possibilidade de tocarem sempre. Com o olhar da mídia, os festivais tornaram-se um mercado de trabalho.
COMPOSITORES
Nesta área, Santa Cruz do Sul tem seus representantes, como o compositor Francisco (Chico) Luiz, que tem mais de 200 músicas escritas para os festivais. No ramo há também os cachoeirenses, radicados em Santa Cruz do Sul, Cleiton Evandro Santos e João Manoel Pereira Neto.
Ambos têm trajetórias divididas em duas partes. Evandro iniciou no ramo dos festivais compondo letras de diversas músicas nos idos de 1994/1995. “Batia sempre na trave”, brinca o jornalista que, após um tempo, deixou de lado os festivais para dedicar-se às áreas profissional e pessoal.
Juliana Miranda/Alma Musiqueira
Cleiton Santos escreve letras nativistas e as inscreve nos festivais
O retorno de Cleiton aos “palcos” ocorreu por volta do ano 2000, quando redescobriu sua paixão. “A bagagem cultural que eu adquiri e o exercício da profissão me deu um gás muito grande”, comenta o letrista, acrescentando que o encontro de letras antigas também contribuiu.
Sua primeira premiação foi no festival de Nova Esperança do Sul e serviu de incentivo para continuar na “lida”, uma vez que os festivais exigem músicas inéditas (sem registro fonográfico). Cleiton possui 25 composições gravadas, cerca de 20 letras para enviar a festivais e outras 20 nas mãos de melodistas.
Já João Manoel participou do seu primeiro festival em 1994, com 15 anos, porém na linha popular. “Tinha outros estilos musicais”, declara o músico, que manteve uma regularidade até 2000, quando também se dedicou à família e a profissão de bancário.
Juliana Miranda/Alma Musiqueira
João Manoel cria melodias baseadas nas composições e escolhe os intérpretes
“Viajava muito e não conseguia compor as melodias. Retornei para Santa Cruz do Sul em 2009 e, consequentemente, aos festivais”, explica João Manoel, que reencontrou velhos amigos que o incentivaram a continuar compondo melodias para as músicas e inscrever nos festivais.
O bancário, responsável por criar melodias para letras e escolher os intérpretes das canções, já foi premiado em festivais como Coxilha Negra, de Butiá, e na Vigília do Canto Gaúcho, de Cachoeira do Sul. Em 2012 teve quatro composições em festivais e tem outras tantas para enviar.
MANOCA DO CANTO GAÚCHO
Tanto Cleiton quanto João Manoel têm suas participações na Manoca do Canto Gaúcho, o festival nativista de Santa Cruz do Sul, que teve sua primeira edição em 27 de novembro de 2004, sendo realizada no auditório da Faculdade Dom Alberto, pela Associação Cultural Pró-Rio Grande (Ascupr).
“É a oportunidade para pequenos e jovens compositores”, declara Cleiton, comentando sobre a fase local do festival. “É aqui que os músicos nascidos ou moradores da cidade têm a oportunidade de participar, se classificar e disputar o título com outros compositores”, acrescenta o jornalista.
Realizado pela última vez em 2010, o festival tem chances de retornar este ano, em sua 6ª edição. A Ascupr confirmou que teve o projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do Rio Grande do Sul e que a captação de recursos estará sob a responsabilidade da Associação das Entidades Empresariais (Assemp).