No texto de introdução do livro A Carícia Essencial, de Roberto Shinyashiki, o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa escreveu que “Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo o que é bom em nós: a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo brincar – com o outro”.
Martin Seligman, psicólogo americano, professor na Universidade da Pensilvânia, ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, disse que “a psicologia convencional nasceu para tentar entender o que torna alguém neurótico, deprimido, ansioso, de mal com o mundo”. Disse ainda: “Para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, a infância determina a personalidade adulta. Na minha opinião (disse ele) há certa dose de exagero nessa visão. Superestima-se o passado. (…) Acho que, se você se vê forçado pelo passado a trilhar o caminho rumo à infelicidade, tem todo o direito de esquecê-lo, sem que se sinta obrigado a ficar revolvendo ocorrências longínquas no tempo e no espaço”.
Em fevereiro de 2004 Seligman proferiu uma palestra que está disponível no site ted.com (24 minutos com legendas em português), já com mais de 1,7 milhão de visualizações. Entre outras coisas, disse que “a psicologia deveria estar tão preocupada com os pontos fortes do ser humano quanto com suas fraquezas. Tornar a vida mais gratificante, desenvolver genialidades, promover talentos”.
Em 2002 Seligman lançou o livro Felicidade Autêntica. Seus estudos e pesquisas deram origem a uma nova disciplina: Psicologia Positiva – uma ciência do que faz a vida valer a pena. Hoje, passados mais de 20 anos, seu discurso evoluiu. Ele diz que “mais importante do que ser feliz é viver bem”. Em uma entrevista à revista Época em maio de 2011 ele disse que “perseguir só a felicidade é enganoso”. Disse ainda: “quando trabalhava como terapeuta, fazia um bom trabalho e conseguia eliminar sua raiva, sua tristeza, sua ansiedade, achava que teria um paciente feliz. Mas isso nunca aconteceu. Eu tinha uma pessoa vazia. Isso porque o conjunto de habilidades para florescer – construir boas relações, atingir objetivos, se manter interessado em uma atividade, buscar sentido – é completamente diferente do conjunto de habilidades para acabar com os problemas de humor. É preciso trabalhar com os elementos para florescer além de tratar a depressão”. Florescer é o título do seu livro lançado em 2011 (editora Objetiva), onde ele afirma que a felicidade está supervalorizada: “as emoções positivas que entendemos como felicidade são só uma das cinco maneiras de ter uma vida melhor”. Assim ele explicou a teoria do florescimento ou bem estar: “Meu interesse inicial era saber o que as pessoas fazem por vontade própria, sem serem forçadas. (…) Convenci-me de que a felicidade é só um dos cinco fatores: emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, propósito e realização. (…) É preciso restringir o conceito de felicidade. Perseguir só a felicidade é enganoso. Sou a favor de risos, de bom humor, mas são só parte do que leva as pessoas a agir. É comum, por exemplo, ouvir pais dizerem: ‘Só quero que meus filhos sejam felizes`. Isso é uma tolice. Quero que meus filhos sejam felizes, mas quero que eles gostem de fazer algo, que tenham bons relacionamentos, que encontrem um sentido e um propósito e que conquistem coisas”.
Viver bem e ensinar a viver bem é uma grande arte e, como toda arte, não há receita pronta. Com tanta modernidade, deve-se ter e passar aos filhos valores milenares como disciplina, gratidão, afeto, coragem, resiliência. Felicidade é mais que bom humor, e na maior parte dos momentos parece ser mais fácil falar dela e escrever do que sentir. Ou o que costumamos chamar de felicidade seria florescimento?